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Foto: Danie Franco / Unsplash

Antidepressivo é ineficaz para tratar agitação em pessoas com demência, diz estudo

Uso da mirtazapina, além de não ter efeito contra sintoma, aumentaria risco de mortalidade dos pacientes, segundo pesquisadores   Por Alexandre Raith, da Agência Einstein   O antidepressivo mirtazapina, prescrito para tratar a agitação em pessoas com demência, não melhora o sintoma e estaria associado a uma maior mortalidade. A conclusão é de um estudo [...]

09/11/2021 09h00 Atualizado há 2 anos

Uso da mirtazapina, além de não ter efeito contra sintoma, aumentaria risco de mortalidade dos pacientes, segundo pesquisadores

 

Por Alexandre Raith, da Agência Einstein

O antidepressivo mirtazapina, prescrito para tratar a agitação em pessoas com demência, não melhora o sintoma e estaria associado a uma maior mortalidade. A conclusão é de um estudo conduzido pela Universidade de Plymouth, no Reino Unido, publicado na revista científica The Lancet, no fim de outubro.

O ensaio clínico envolveu 204 pessoas com provável ou possível doença de Alzheimer, a causa mais comum de demência, além de agitação sem resposta ao tratamento não medicamentoso. Para determinar a eficácia do medicamento, os participantes foram divididos, de forma randomizada, em dois grupos:

  • Metade recebeu a mirtazapina;
  • A outra metade, uma substância placebo, para servir como comparativo.

Nenhum dos pacientes, ou dos condutores do estudo, sabia quem estava em qual grupo.

Ao observarem os sinais de agitação nos participantes, os pesquisadores perceberam que, nas primeiras 12 semanas, houve uma redução do sintoma. O efeito, porém, não poderia ser atribuído ao remédio, segundo eles, visto que a diminuição também foi constatada no grupo controle.

De acordo com os pesquisadores, os resultados indicam que a medicação não é clinicamente eficaz, em comparação com o placebo, para o tratamento da agitação em pessoas com demência. “Esse achado implica na necessidade de mudar a prática atual de prescrição de mirtazapina e, possivelmente, de outros antidepressivos sedativos”, citam eles no artigo publicado.

Possível impacto na mortalidade

Os resultados revelaram também uma diferença nos eventos adversos entre os grupos. Sete mortes foram registradas no grupo que tomou o medicamento, contra apenas uma no comparativo. No entanto, os pesquisadores não confirmam uma associação direta entre os óbitos e o antidepressivo.

“É preocupante que, apesar de o número total de eventos adversos não ter divergido entre os grupos, a mortalidade foi diferente (….). Embora não saibamos se as mortes foram relacionadas à mirtazapina, na ausência de benefícios clínicos atribuíveis [ao medicamento], esses danos potenciais significam que a mirtazapina não pode ser recomendada para o tratamento da agitação na demência”, reiteram.

Como tratar a agitação?

Sintomas comuns nas pessoas com demência, a agitação e a ansiedade surgem pela dificuldade de o paciente assimilar novas informações. Uma mudança de residência ou na rotina, além de interações medicamentosas, podem favorecer o quadro, segundo dados da Associação norte-americana do Alzheimer.

A primeira linha de tratamento, em geral, são terapias que não envolvem medicamentos, mas mudanças no comportamento. A instituição norte-americana sugere, a quem estiver próximo de alguém em um momento de agitação ou ansiedade, para adotar as seguintes atitudes:

  • Escute a frustração dele/dela;
  • Use frases calmas e positivas, como “tudo está sob controle” e “você está seguro”;
  • Envolva a pessoa em atividades, como arte e música, para que a atenção mude de foco;
  • Mude o ambiente e tente limitar os estímulos ao redor;
  • Leve a pessoa para uma caminhada ou passeio de carro;
  • Diminua o ritmo e perceba o seu tom de voz;
  • Não faça movimentos bruscos;
  • Procure um médico para confirmar se o sintoma não está associado ao uso de uma medicação ou se há causas físicas.

Nem todos os pacientes, no entanto, se beneficiam dessas ações, e um tratamento medicamentoso pode ser necessário. De acordo com os pesquisadores do estudo, as evidências atuais não são claras com relação a efetividade e segurança dos antipsicóticos e, agora, do antidepressivo mirtazapina.

(Fonte: Agência Einstein)

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