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Terapia genética contra a obesidade

Experiência feita na Coreia do Sul mostra que a desativação de gene envolvido no metabolismo reduz o peso corporal e diminui a chance de diabetes associada ao acúmulo de peso

11/10/2019 09h59 Atualizado há 4 anos

Por Fabio de Oliveira, Agência Einstein

Hoje é o dia mundial da Obesidade, epidemia mundial que se tornou um dos principais problemas de saúde pública do planeta. Mas a ciência tem avançado no seu controle. A mais recente boa nova é uma esperança trazida por pesquisadores da Hanyang University, da Coreia do Sul, acabam de publicar um estudo revelando a criação de uma terapia genética específica que reduz o tecido gorduroso e reverte os efeitos metabólicos causados pelo acúmulo de gordura, como a diabetes tipo 2. O trabalho, feito em cobaias, foi relatado no Genome Research, respeitada publicação científica na área.

Os cientistas desenvolveram um método capaz de desativar um gene envolvido no metabolismo das gorduras, o Fabp4. A técnica reduziu a expressão do gene, diminuindo o armazenamento de gordura nos adipócitos, as células que guardam a substância. A eficácia foi verificada em camundongos que haviam ficado obesos após serem alimentos com uma dieta rica em gordura. O acúmulo de gordura levou ao desenvolvimento da resistência à insulina, hormônio fabricado no pâncreas que permite a entrada do açúcar do sangue para dentro das células. Quando ele não funciona corretamente, o açúcar se acumula na corrente sanguínea, causando a diabetes. O silenciamento do gene resultou em 20% na redução do peso corporal e reduziu a resistência ao funcionamento da insulina e da inflamação após seis semanas do tratamento. Os cientistas observaram ainda redução no depósito de gordura no fígado e na concentração de triglicérides.

Mais estudos serão necessários até que a técnica, ou outras semelhantes, cheguem aos pacientes. No entanto, o trabalho coreano demonstra a viabilidade da terapia genética também para o controle da obesidade, uma epidemia mundial que afeta cerca de 500 milhões de pessoas. As taxas de obesidade ao redor do mundo quase triplicaram desde 1975, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). As estimativas da OMS apontam também que, em  2016, mais de1,9  bilhão  de  adultos estavam  com  sobrepeso –ou  seja,  com índice de massa corporal, o IMC, igual ou maior do que 25kg/m².

No Brasil, em 2016 os  números  do  Vigitel  (pesquisa  telefônica feita  pelo  Ministério  da  Saúde  para  monitorar  a  frequência  e a distribuição de fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal), também revelam que o Brasil engordou nos últimos 10 anos, quando o levantamento começou a ser feito. O  excesso  de  peso  aumentou  26,3%,  passando  de  42,6%  em  2006  para  53,8%  uma década  mais  tarde. O  crescimento  dos  índices  de  obesidade  foi  de  60% no  decênio, saltando  de  11,8%  em  2006  para  18,9%  em  2016. A  subida  do  ponteiro  da  balança  no país e no mundo tem a ver com mudanças que aconteceram globalmente. “As pessoas estão   praticando   menos   atividade   física   e   ingerindo   alimentos   mais   calóricos   e processados”, explica o endocrinologista Paulo Rosenbaum,do Centro  de  Prevenção  e Tratamento da Obesidade Einstein (CPTOE), do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “No Brasil, por exemplo, tem-se comido mais massa do que arroz com feijão.”

De  acordo  com  o  Vigitel, o  consumo regular de feijão caiu de 67,5% em 2012 para 61,3% em 2016. Segundo Rosenbaum, nos países em desenvolvimento como o nosso, a população tem tido cada vez mais acesso a alimentos baratos e calóricos. Outro fator preocupante é o crescimento  da  obesidade  em  crianças  e  adolescentes,  o  que  aumenta o  risco  de  se tornarem  adultos  obesos. “Eles estão cada vez mais sedentários”, diz o especialista.

Síndrome Metabólica

A  obesidade  tem  um  custo  elevado  para  a  saúde.  Ela  está  associada  à  síndrome metabólica,  um  conjunto  de  fatores  no  qual  estão  inclusos  hipertensão,  níveis  de colesterol e triglicérides altos, diabetes e doenças cardiovasculares. “O obeso costuma faltar mais ao trabalho e tem maior índice de hospitalização”, revela Rosenbaum. Hoje, o entendimento é o de que a obesidade  é  uma  doença  crônica  que  requer acompanhamento por tempo indeterminado, muitas vezes com uso de medicamento por longo prazo. Mudanças de hábitos de vida, como adoção da prática de exercícios físicos e de alimentação saudável, são fundamentais para combatê-la.

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