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Surfe: mais do que ondas, prancha e técnica

Essa modalidade ganhou ainda mais destaque das Olimpíadas. Conheça o preparo dos profissionais — e o que você pode aprender com eles

17/08/2021 13h09 Atualizado há 2 anos

Essa modalidade ganhou ainda mais destaque das Olimpíadas. Conheça o preparo dos profissionais — e o que você pode aprender com eles

Por Cristiane Santos, da Agência Einstein

Boas ondas, uma prancha e técnica. Estes são os principais requisitos para a prática do surfe como recreação esportiva. Mas para chegar ao mais alto degrau de um pódio ou carregar no peito uma medalha é preciso muito mais que isso. Saúde, excelente preparo físico, uma rotina intensa de treinos, concentração, foco e controle emocional completam a lista de atributos que separa os atletas de alta performance dos demais praticantes da modalidade.

Com a profissionalização contínua e maior entendimento de que o surfe exige preparo e cuidados específicos, com equipe multidisciplinar, a modalidade foi incluída nos Jogos Olímpicos a partir da edição deste ano, em Tóquio, no Japão, e chamou a atenção do mundo. “O surfe é diferente de todos os outros esportes porque é praticado em ambiente natural, que não é controlado. O atleta está exposto ao sol, à chuva, mar calmo ou bravo e ao vento. As ondas nunca são iguais e, por isso, exige muita atenção e um olhar totalmente diferente”, explica Eduardo Takeuchi, preparador físico de Filipe Toledo, o número 3 do surfe mundial.

Mas antes de cair no mar, o surfista passa por uma bateria de exames, além de ser acompanhado continuamente por uma equipe formada por profissionais de várias especialidades, como dermatologista, clínico geral, ortopedista, sem esquecer do preparador físico, o nutricionista e um especialista em técnicas em regulação emocional.

“Quando falamos em saúde, é preciso estar atento a questões como o  tempo de exposição ao sol, a hidratação, o risco de doenças causadas por vermes e bactérias ou de afogamento em uma queda, lesões relacionadas à prática do esporte, habilidade e preparo emocional”, explica Guilherme Vieira Lima, médico ortopedista e do esporte no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Ele é coordenador do curso de Medicina Esportiva – Módulo Surfe, do Ensino Einstein. Surfista desde os oito anos de idade, Vieira Lima integra equipe multidisciplinar que cuida de atletas de elite.

Essa equipe trabalha alinhada com o técnico e o preparador físico do surfista. No caso de Filipe Toledo, todas as informações ficam concentradas no técnico Eduardo Takeuchi, que discute junto com os especialistas as melhores abordagens para preparo físico, técnico e emocional do atleta.

A quebra de paradigmas

Desde 2002 trabalhando com surfistas, o preparador físico Daniel Uesugi conta que a preparação física mudou muito nos últimos 20 anos. Uma das principais diferenças está no treino funcional.

“Antes, os atletas treinavam muito a repetição das manobras em terra. Hoje, nosso foco é deixar o corpo o mais inteligente possível, para que ele responda rapidamente na água e se posicione de acordo com a manobra que será executada e com as condições do ambiente”, explica ele, que tem no portfólio de clientes nomes da elite do surfe, como Samuel Pupo, Ian Gouveia e Caio Ibeli.

O controle emocional entra na lista de diferenciais capazes de mudar o resultado de uma bateria de provas e até de um campeonato inteiro. “Estamos quebrando paradigmas ao mostrar que chega um determinado ponto em que só a técnica não é suficiente para a excelência”, diz Uesugi. Por isso, técnicas que ajudam na concentração e no foco integram, desde 2018, o plano de treino.

“O primeiro passo é entender que, antes de serem atletas, eles são seres humanos, com uma história prévia, família, vida pessoal, sonhos. E vamos adaptando o treinamento para foco e concentração, de acordo com as características e necessidades de cada um”, diz Elisa Kozasa, neurocientista do Einstein especializada em práticas de gestão emocional.

A especialista integra a equipe multidisciplinar de acompanhamento dos surfistas de alta performance. A escolha da técnica varia de acordo com o perfil e o objetivo de cada surfista.

A meditação entrou no plano de preparo de Filipe Toledo em 2018 como uma forma de exercitar a concentração e manter a tranquilidade no momento das provas. “Há surfistas que ficam mais ansiosos antes do início da prova. Outros entram relaxados e, durante um problema ou uma situação inesperada, não conseguem mais se desligar. Surfar eles já surfam muito. O que queremos é aumentar a performance, mantê-los focados na execução da atividade”, afirma Elisa.

Bora pro mar

A vitória de Ítalo Ferreira nas Olimpíadas de Tóquio deve aumentar o interesse pela prática do esporte. Mas os especialistas lembram que o surfe requer cuidados especiais:

  • É preciso saber nadar e ter consciência dos riscos do mar.
  • Não se aventure sozinho, procure um profissional que, além de saber a técnica, tenha bons conhecimentos de primeiros-socorros específicos para a modalidade.
  • O atleta está exposto a riscos ambientais como sol, frio, a força dos ventos e das ondas. Tudo isso requer cuidados especiais como hidratação contínua, uso de protetor solar e acompanhamento médico constante.
  • Crianças, mesmo que apaixonadas pelo surfe, ainda são crianças e precisam desenvolver habilidades motoras, cognitivas e emocionais antes de serem submetidas a uma rotina intensa de treinos. “Elas precisam brincar, se descobrir. O surfe não pode ser uma coisa pesada”, afirma Eduardo Takeuchi.

(Fonte: Agência Einstein)

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