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Suplementação de ferro pode ajudar a prevenir dengue

Cientistas descobrem que o Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus responsável pela doença, infecta-se mais quando pica indivíduos anêmicos

27/09/2019 10h00 Atualizado há 4 anos

Por Cilene Pereira, da Agência Einstein

Um estudo patrocinado por instituições de pesquisas chinesas apresenta uma nova possibilidade de combate à dengue, doença que já registra 60 milhões de casos e 13 milhões de mortes por ano em todo o mundo. De acordo com o trabalho, publicado na edição deste mês da revista científica Nature Microbiology, o Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus que provoca a enfermidade, é mais propenso a ser infectado quando pica indivíduos portadores do micro-organismo que apresentam baixa concentração de ferro. O achado, segundo os autores do trabalho, justificaria a suplementação do mineral em populações expostas ao vírus e também tradicionalmente com alto índice de anemia. A condição está presente na África, na América do Sul e no Sudoeste da Ásia, coincidentemente regiões afetadas pela doença. “A suplementação abre um novo caminho para a prevenção”, disse à AGÊNCIA EINSTEIN DE NOTÍCIAS o cientista Gong Cheng, professor da Tsinghua University School of Medicine, em Pequim, na China, e um dos coordenadores do trabalho. “A estratégia tem muitas vantagens. É prática, tem baixo custo financeiro e ambiental e é segura.”

A pesquisa partiu do interesse do imunologista Penghua Wang, da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, em investigar como a qualidade do sangue influenciava a chance de o mosquito se infectar pelo vírus depois de picar alguém contaminado. Foram envolvidos pacientes de 920 hospitais, que cederam amostras de sangue às quais vírus da dengue foram adicionados. Quanto maior a quantidade de ferro, menos mosquitos foram infectados. A explicação está no modo de funcionamento do sistema imunológico do Aedes Aegypti: as células do mosquito usam o ferro presente no sangue para produzir uma reação que mata o vírus da dengue.

O próximo passo planejado pelos cientistas é a realização de testes em humanos com o objetivo de provar se a suplementação de ferro é eficaz em populações mais amplas. É uma etapa fundamental.  “O achado dos pesquisadores é interessante, pode ter implicações práticas”, afirma o infectologista Luis Fernando Aranha, professor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, em São Paulo. “Mas a maior limitação se dá pelo fato de que há provavelmente vários fatores envolvidos na transmissão do vírus para o mosquito. Neste estudo, estão avaliando apenas uma variável, a qual deve ser testada em um cenário com diversas variáveis que possam estar envolvidas.” O médico Kleber Luz, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, compartilha da mesma cautela. “É um preciso um estudo de campo para comprovar o achado, obtido em caráter experimental”, diz.

 (Fonte: Agência Einstein)

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