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Regiões mais ricas do Brasil têm menos mortes por doenças cardiovasculares, aponta estudo

Estados com melhores indicadores sociais tiveram maior redução nas mortes por infarto e derrame em 20 anos, diz levantamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

12/01/2024 08h00 Atualizado há 50 dias

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares caiu nos últimos 20 anos de forma diferente entre ricos e pobres no Brasil, segundo um estudo da  Universidade Federal do Rio de Janeiro. Regiões com maior nível de desenvolvimento humano registraram uma queda mais acentuada de mortes por derrame e infarto do que aquelas com piores índices.

Para avaliar a taxa de mortalidade, os autores cruzaram o número de mortes com o índice sociodemográfico (ISD), que avalia o nível de desenvolvimento, e o de vulnerabilidade social (IVS) – que mostra como a riqueza está distribuída. As informações sobre o ISD foram obtidas no site do Global Health Data Exchange e o IVS do Atlas da Vulnerabilidade Social, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Nas últimas duas décadas, o Brasil melhorou os indicadores de vulnerabilidade social e a mortalidade por infarto reduziu, em média, 21%. Já a mortalidade por Acidente Vascular Cerebral (AVC) caiu aproximadamente 37%, segundo o levantamento.

No entanto, os dados gerais sobre doenças cardiovasculares revelam que, enquanto o Distrito Federal e a região Sul – que ostentam os melhores indicadores sociais – tiveram uma redução de cerca de 50% nas mortes, na Bahia e em Sergipe, por exemplo, a queda foi de apenas 7%. Já o Acre, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão chegaram a apresentar uma piora no número de óbitos.

Para os autores, a melhora na taxa de mortalidade ocorre em função de maior acesso a serviços de saúde e estratégias de prevenção e enfrentamento de doenças crônicas não transmissíveis. “Essas doenças podem ser prevenidas com medidas efetivas e de baixo custo”, diz o cardiologista José Lucas Bichara, um dos autores do estudo.

“A educação também tem um impacto muito grande, pois ela envolve desde o acesso ao sistema de saúde até conseguir interpretar receitas e recomendações médicas para, por exemplo, cuidar de doenças como hipertensão e diabetes”, avalia o cardiologista.

“Nas regiões com índices socioeconômicos mais elevados, há maior disponibilidade e acesso a serviços de saúde e tratamento das doenças, propiciando melhor manejo de condições crônicas de saúde”, diz a cardiologista Juliana Aparecida Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Já os piores indicadores se associam a menor acesso à saúde em geral, o que acarreta, inclusive, maior vulnerabilidade emocional devido às dificuldades para acessar o tratamento, desde a distância, as condições de transporte e a disponibilidade de recursos como medicamentos e terapias de suporte”, completa a especialista.

Mais informação e educação em saúde

Além disso, maiores níveis de escolaridade estão relacionados a mais informação e educação em saúde, diz Soares. “Isso se associa a melhor autocuidado, incluindo melhor qualidade de alimentação, conscientização sobre benefícios da atividade física regular e acesso a locais para prática, melhor discernimento sobre sintomas e mais acesso a serviços para controle dos fatores de risco e manejos de condições graves, além de maior aderência ao tratamento”, enumera ela.

Um estudo recente, feito nos Estados Unidos, evidencia como a renda pode estar associada a fatores de risco cardiovascular, já que a precariedade dificulta até o acesso à alimentação saudável e possibilidades de mudanças no estilo de vida. Ao comparar mais de 20 mil adultos nos últimos 20 anos, os autores constataram que a prevalência de doenças como hipertensão e diabetes, além de tabagismo, era maior entre os mais pobres.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e as taxas de mortalidade entre os países variam em função do grau de desenvolvimento. Nações ricas costumam apresentar maior nível de incidência de doenças crônicas, provavelmente por maior exposição a fatores de risco e maior disponibilidade de métodos diagnósticos.

Mas a probabilidade de morte é maior em zonas com menor grau de desenvolvimento. “A desigualdade social impacta fortemente o panorama da saúde das populações e associa-se à discrepância no acesso à saúde e implementação e adoção de medidas de promoção e prevenção de saúde, bem como iniquidades em relação ao diagnóstico precoce, fundamental para diminuição da mortalidade cardiovascular”, finaliza Soares.

Fonte: Agência Einstein

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