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Queda de renda pode afetar a saúde do coração

É o que revela um estudo americano que acompanhou quase nove mil pessoas por 17 anos. Por isso, médicos devem ficar atentos também à condição financeira do paciente

30/10/2019 09h00 Atualizado há 4 anos

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein

Rendimentos que despencam ao longo dos anos deixam o bolso mais vazio e o peito fragilizado. Foi o que mostrou um estudo publicado no periódico científico Journal of American Medical Association – Cardiology. O objetivo da pesquisa foi avaliar a associação entre mudanças no extrato bancário e a ocorrência de doença cardiovascular. Ao todo foram analisadas 8.989 pessoas nos Estados Unidos. Seu estado de saúde foi observado ao longo de 17 anos. Já o equilíbrio financeiro foi registrado entre duas entrevistas com um intervalo de seis anos. Os participantes foram classificados de acordo com o status de sua renda familiar: queda de mais de 50%, estável ou aumento acima de 50%.

Quando comparados ao grupo cuja situação econômica não variou, quem teve redução de mais de 50% dos cifrões apresentou uma probabilidade 17% maior de ser acometido por problemas como ataque cardíaco, insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana e acidente vascular cerebral. No grupo que viu o patrimônio financeiro crescer 50% ou além, o resultado foi o inverso: 14% menos possibilidade de ter um mal cardiovascular.

De acordo com o cardiologista Fernando Costa, que é diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o rebaixamento do padrão de vida é algo estressante para a pessoa. “O sistema adrenérgico fica mais ativo”, explica o especialista. Em outras palavras, substâncias como adrenalina se elevam no organismo. Daí, o indivíduo se torna mais ansioso, a frequência cardíaca sobe, assim como a pressão arterial, além das taxas de glicose e de colesterol no sangue. A tendência também é que o padrão alimentar se altere com o consumo de itens mais baratos e, muitas vezes, ricos em carboidrato e açúcar. O coração acaba sofrendo.

Pensar no dia a dia que tinha antes da derrocada financeira também é um fator de esgotamento mental para o indivíduo, segundo Costa. Sem contar os que têm filhos. O cardiologista ainda aponta que o estudo foi feito em um país economicamente estável. Ao transpor os resultados para o Brasil, que enfrenta uma das mais graves crises econômicas de sua história, a situação pode ser ainda mais dramática. “Só no Brasil são mais de 12 milhões de desempregados”, fala o médico. “O que eles comem? Qual é seu tipo de lazer? Que esperança têm”, questiona.

Por isso, de acordo como Fernando Costa, os médicos precisam perguntar para seus pacientes como está o cotidiano, se estão empregados ou à procura de trabalho. É o que recomenda também o autor sênior da pesquisa, Scott D. Solomon, professor no Brigham and Women’s Hospital, em Boston. “Frequentemente, não pensamos nos fatores sociais que podem contribuir para a saúde cardiovascular. É uma maneira diferente de pensar à qual nós, cardiologistas, não estamos acostumados. Mas precisamos mudar”, disse. Diante de um cenário econômico ainda pouco animador, o alerta do médico americano faz ainda mais sentido.

(Fonte: Agência Einstein)

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