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Quando a dança é o remédio

Por que dançar ajuda no tratamento das doenças qualquer que seja a idade do paciente

28/10/2019 17h28 Atualizado há 4 anos

Por Cristiane Bomfim, da Agência Einstein

Quando criança, dançar tinha efeito de remédio para Vânia Deonízio, hoje com 45 anos. Mexer o corpo ao som de músicas animadas diminuía o sofrimento causado por um trauma vivido aos dez anos de idade, época em que morava em uma zona rural de Minas Gerais. Em 2006, seis anos após chegar aos Estados Unidos em busca de fazer o sonho americano, a brasileira deu sua primeira aula de dança dentro de um hospital infantil. Em uma das classes do Hospital UCSF Benioff, na Califórnia, Morg’Ann Williams, então com 13 anos, era a única e primeira aluna de uma iniciativa que, hoje, contabiliza o atendimento gratuito de mais de 17 mil crianças americanas hospitalizadas. “A dança me ajudou e eu sabia que ela poderia diminuir a tristeza e o sofrimento das crianças internadas. Era minha missão, mas não pensei que a primeira aula fosse ser tão difícil”, contou Vânia à Agência Einstein. Sentada em uma cadeira de rodas, Morg’Ann usava pijamas e aparentava um péssimo humor: “Eu não posso dançar, mas quero ver o que você sabe fazer”, disse a garota. Usando uma saia rodada colorida, Vânia colocou para tocar “Requebra”, do grupo baiano Olodum. A cada movimento que fazia, esperava alguma reação da garota. Nada. Só foi no final da apresentação que ela pediu. “Faça de novo.” Na repetição da coreografia, a adolescente sorriu e finalmente dançou.

Vânia esteve no Brasil na semana passada a convite do Institute For Healthcare Improvement (IHI) e do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, para apresentar os resultados da ONG fundada por ela, a Dancin Power, aos participantes do 5º Fórum Latino Americano de Qualidade de Qualidade e Segurança na Saúde. O impacto é impressionante. “A mudança no movimento, na flexibilidade, no nível de relaxamento e na perspectiva, que fica mais positiva, dos pacientes após uma sessão de Dancin Power é realmente notável”, afirma o médico Paul Harmatz, pesquisador do Hospital Infantil UCSF Benioff.

O depoimento de Morg’Ann, beneficiada diretamente, é contundente. Depois da primeira aula, pegou firme na dança e ajudou a professora a organizar um recital para o qual foram convidados todos os que trabalhavam no hospital. “Nunca tinha participado de uma aula de dança na minha vida”, lembra a menina. “Mas aprendi como dançar e senti empoderada o suficiente para realizar a apresentação de um recital com três danças coreografadas com outras vinte dançarinas. Aquele foi realmente um dos melhores dias da minha vida e nunca esquecerei”, lembra a jovem. Hoje a Dancin Power tem mais de oitenta profissionais treinados para levar a dança a pessoas internadas. Há planos de trazer a iniciativa para o Brasil.

A prática médica já mostrou que a dança funciona de fato como uma terapia complementar seja pelos benefícios físicos como pelos mentais que provoca. Um dos estudos mais recentes sobre o assunto foi realizado pelo Queensland Ballet e a universidade australiana QUT. Durante três meses, pessoas com mais de 65 anos participaram de aulas de ballet. Ao final do período, apresentavam alto índice de satisfação com a vida, uma rede de amigos muito maior, além de benefícios como mais disposição, flexibilidade e melhora na postura e na sensação de conquista. “Os participantes manifestaram progressos expressivos em questões de saúde e bem-estar”, disse Felicity Mandile, diretora de Estratégia do Queensland Ballet. Como se vê, não importa o ritmo. O importante é entrar na dança.

Hora da dança – As músicas favoritas das crianças*

  1. Brown Skin Girl – Beyoncé
  2. The fight song – Rachel Platten
  3. Better When I’m Dancin’ – Meghan Trainor
  4. Can’t stop the feeling – Justin Timberlake
  5. Old Town Road – Lil Nas X e Billy Ray Cyrus
  6. How far I’ll go – Moana by Auli’i Cravalho
  7. Havana – Camila Cabello
  8. God’s plan – Drake
  9. Born this way – Lady Gaga
  10. Good as hell – Lizzo
  11. Happy – Pharrell Williams
  12. Let It Go (Frozen) – Idina Menzel
  • ONG Dancin Power

(Fonte: Agência Einstein)

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