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Foto: Cristiane Bomfim/Agência Einstein

Projeto em Paraisópolis, em São Paulo, reúne homens em bares para falar de saúde

Bate-papo procura fazer com esse público discuta o assunto e invista no autocuidado

15/10/2019 09h05 Atualizado há 4 anos

Por Cristiane Bomfim, da Agência Einstein

Uma vez por mês, sempre no período da tarde, o enfermeiro do Hospital Israelita Albert Einstein, Francisco Paiva, de 43 anos, sai dos limites físicos da Unidade Básica de Saúde (UBS) Paraisópolis 2, no bairro de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, com direção a um dos muitos bares que funcionam no entorno para conversar sobre saúde. Nomeado “Conversa de Boteco”, o projeto que começou em 2013 por iniciativa de Francisco tem como alvo homens, público que costuma não frequentar serviços de saúde para prevenção.

Crédito: Cristiane Bomfim | Agência Einstein

A conversa é informal e quem dá o tom são os moradores da região que, entre um gole de água (ou cerveja) e outro, discutem entre si temas como câncer de próstata, o consumo de cigarro, álcool e outras drogas, doenças sexualmente transmissíveis, a importância de hábitos saudáveis e da realização de consultas e exames periódicos para a prevenção.

O número de participantes varia entre 15 e 20 pessoas por encontro e pode aumentar ou diminuir ao longo da uma hora de bate-papo que, como em qualquer encontro informal, não é linear. Francisco e sua equipe definem o tema a ser discutido com base nas sugestões dos frequentadores dos bares ou em assuntos que foram mencionados nas reuniões anteriores por meio do instrumento de coleta de dados chamado Mapa Falante, que nada mais é que uma representação gráfica dos problemas que mais atingem esse grupo. Essas representações são apresentadas a todos e dão origem ao tema para discussão. “Nós conduzimos os temas e fazemos provocações para que esses homens discutam entre si o assunto e esclarecemos as dúvidas que podem surgir. E aí acontece de tudo, desde exemplos pessoais, uma fala mais alta e discordâncias. Mas o importante é que eles falem e pensem sobre saúde, mudem o comportamento”, afirma Francisco.

Entre 2013 e dezembro de 2018 foram realizados 72 encontros que reuniram cerca de 1200 homens em dez bares de Paraisópolis. Mas o número de pessoas impactadas é bem maior e não dá para mensurar. “Esses homens replicam o assunto em casa, entre os amigos e, por isso, o boca a boca se torna importante na promoção da saúde”, diz o enfermeiro.

E foi em 2013 que a saúde do comerciante Francisco Assis Januário Barros, de 49 anos, começou a mudar. Ele foi atraído para dentro de um bar pela conversa sobre câncer de próstata. “Eu não tinha o costume de ir ao médico porque eu achava que não tinha doença, que era forte. Aí depois dessa conversa, fiquei preocupado. No mês seguinte fui ao posto de saúde. Meus exames de sangue deram alteração”, conta. Ele descobriu que tem diabetes e se submeteu ao exame de próstata pela primeira vez. De lá para cá, passa por consultas periódicas, mudou a alimentação, emagreceu 30 quilos e incentiva os amigos a cuidarem da saúde.  Gostou tanto do projeto que continua frequentando.

O sucesso do projeto “Conversa de Boteco” é tanto que a notícia chegou aos ouvidos de José de Souza, de 48 anos. Morador de Paraisópolis há três décadas, ele ofereceu seu estabelecimento Bar e Lanches Alves para sediar alguns encontros. “Sempre fui em postos de saúde e acho que essas reuniões são importantes porque tem muito homem que não vai ao médico, não se cuida por medo, por achar que não precisa ou por falta de conhecimento”, diz. “Sempre chamo o povo para vir para o bar conversar sobre saúde.”

Preocupado com a saúde, Gabriel Antônio de Lima, de 17 anos, é um dos mais jovens participantes do bate-papo. Apesar da pouca idade, ele não vê problemas em compartilhar com os novos amigos de bar as experiências vividas na sua família. Decidiu parar de fumar em novembro de 2017 e achou que seria mais difícil. “Estou animado em poder dividir isso com pessoas que eu não conheço, mas que têm problemas como eu. Acho que ações como essa ajudam a mudar nosso estilo de vida e a sermos mais saudáveis”, diz.

O enfermeiro Francisco Paiva conta que os participantes do “Conversa de Boteco” têm passe livre na Unidade Básica de Saúde nos sete dias seguintes ao encontro para serem atendidos em consultas de enfermagem ou médica, o que pode gerar solicitação de exames, se necessário. “Queremos que esses homens se sintam acolhidos e à vontade para tirar dúvidas e cuidar da saúde, caminhando para o autoconhecimento e buscando atendimento quando necessário, isso é autonomia”, explica.

(Fonte: Agência Einstein)

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