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PrEP e PEP: entenda a diferença entre as terapias que ajudam a prevenir a Aids

Uma é usada como preventivo antes de se ter contato com o vírus HIV. À outra recorre-se em situações de emergência após a exposição acidental ao micro-organismo

22/10/2019 09h00 Atualizado há 4 anos

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein

As siglas estão inglês: PrEP, pre-exposure prophylaxis, ou profilaxia pré-exposição em português. E PEP (post-exposure prohylaxis), profilaxia pós-exposição. São, em suma, métodos para prevenir o contágio pelo HIV, o vírus da Aids. Como os nomes revelam, eles são indicados para situações diferentes. A PrEP já é oferecida pelo SUS desde o final de 2017 – os Estados Unidos foram o primeiro país a adotar o esquema, em 2012. A PEP passou a ser disponibilizada em 2011 no Brasil. O infectologista Thiago Zinsly Sampaio Camargo, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, explica abaixo as diferenças entre os dois procedimentos:

  1. O que é a PrEP?

A PrEP é uma estratégia que, no Brasil, pode ser utilizada pelas pessoas que não têm HIV, mas apresentam risco considerável para contraí-lo e, dessa forma, prevenirem a infecção através de uma pílula única diária. Ela é indicada para homens que mantêm relações sexuais com outros homens, pares discordantes, isto é, para parceiro soro negativo de pessoa com HIV que ainda não tem carga viral suprimida de modo sustentado. Além disso, pode ser recomendada para qualquer pessoa que tenha risco aumentado de contrair o vírus, como os profissionais do sexo.

  1. Ela promove proteção contra HIV acima de 90%?

Sim. A PrEP oferece uma proteção importante ao HIV em quem faz uso consistente da medicação. Entretanto, se isso ocorre de maneira irregular, ela é bem menor. Vale lembrar que essa estratégia não dispensa o uso de preservativo, já que ela não resguarda de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como sífilis, gonorreia, clamídia, entre outras. ISTs como alguns subtipos de HPV, por exemplo, podem ser prevenidas por meio de vacinação.

  1. Em quanto tempo a PrEP começa a ter efeito? 

A PrEP utilizada atualmente é uma combinação de dois antirretrovirais, entricitabina e tenofovir, em um único comprimido que deve ser tomado uma vez ao dia. O tempo ideal entre o início da dose diária oral e a proteção contra o HIV ainda não é totalmente estabelecido em todas as situações. Leva sete dias para resguardar práticas sexuais anais. No tecido vaginal o medicamento demora mais para alcançar a concentração ideal de proteção, cerca de 20 dias. Médico e paciente devem analisar e discutir individualmente riscos e benefícios para o início do PrEP e fazer o acompanhamento clínico e laboratorial a cada três meses. Nesse seguimento é realizado o controle de eventuais efeitos colaterais do medicamento (renais e hepáticos, por exemplo), além da triagem e pronto tratamento de eventuais outras infecções sexualmente transmissíveis, que inclusive podem sem assintomáticas.

  1. E a PEP? Como funciona?

A PEP ou profilaxia pós-exposição consiste no uso de medicamentos logo após uma exposição ou potencial exposição ao HIV para prevenir a infecção por esse vírus. Ela é composta por três antirretrovirais – atualmente, lamivudina, tenofovir e dolutegravir estão no esquema preferencial utilizado no Brasil.

  1. Em quais casos ela é indicada e por quanto tempo deve ser tomada?

Inicialmente ela foi criada para prevenção das infecções relacionadas à exposição ocupacional, ou seja, dos profissionais de saúde, aos acidentes percutâneos com sangue ou outros matérias biológicos potencialmente contaminantes de pacientes portadores do HIV ou de quem não foi possível realizar o exame para saber se tinha ou não o vírus.

São considerados fluidos capazes de infeccionar:

*sangue e/ou fluidos com sangue visível,

*secreções vaginal e seminal

* líquidos: cerebroespinhal, sinovial, pleural, peritoneal, pericárdico ou amniótico

A pele intacta é uma barreira efetiva contra a transmissão do HIV. Assim, para ter potencial de contágio, o contato dos fluidos infectantes deve ter sido através de mucosa ou lesão por picada de agulha, por exemplo. A PEP também pode ser prescrita em algumas exposições não-ocupacionais em situações específicas, como exposição sexual desprotegida, abuso sexual, entre outras. Quando indicada ela precisa ser tomada por 28 dias.

  1. O tratamento deve começar até 72 horas depois da provável exposição ao vírus HIV e ser seguido por 28 dias? Por quê?

O tratamento deve começar o mais rápido possível após a possível exposição para um melhor resultado. Depois de 72 horas, são questionáveis os benefícios desse recurso. No entanto, ela também pode ser considerada individualmente em situações de risco muito alto de transmissão. A PEP tem de ser mantida por 28 dias porque os trabalhos que compararam seu uso por um tempo menor tiveram resultado inferior na prevenção da infecção pelo HIV.

  1. Por que seu uso não deve ser indiscriminado? Não se tem conhecimento de seus efeitos em longo prazo no organismo?

Seu uso não deve ser indiscriminado por não ser um tratamento isento de efeitos colaterais que devem ser seguidos de perto. A PEP utilizada no Brasil atualmente é composta do mesmo esquema considerado de primeira linha para tratamento da infecção pelo HIV. Dessa forma, seu uso prolongado implica nos mesmos efeitos do tratamento da infecção pelo HIV a longo prazo. Entre eles estão a possibilidade de o vírus adquirir resistência aos antirretrovirais, alterações renais, hepáticas e ósseas.

  1. A PEP também ajuda a evitar infeção pelos vírus das hepatites A, B e C?

A PEP só é efetiva para a prevenção do HIV. No caso da hepatite A e B existe vacina. Para a hepatite C, ainda não existe um imunizante disponível.

(Fonte: Agência Einstein)

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