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Por que um coração jovem pode parar

A morte do jogador de futsal Luis Fernando dos Santos, de 19 anos, de infarto, chocou a todos. Saiba os motivos que levam o coração de pessoas aparentemente saudáveis a parar de uma hora para outra

07/01/2020 09h01 Atualizado há 4 anos

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein

A notícia do falecimento de um jovem, sobretudo um atleta, algumas vezes durante uma partida de futebol ou outra modalidade esportiva, causa comoção no público, mesmo quando situações semelhantes não tenham ocorrido com um grande intervalo de tempo entre elas. Os casos de morte súbita são raros e atingem 0,2% da população. Mas não deixam de assustar. O que está por trás deles?

“Uma morte súbita acontece de forma inesperada, quando, entre começar a sentir um problema e chegar a falecer, a pessoa perde a vida em menos de uma hora”, explica o cardiologista Guilherme Fenelon, que é coordenador do Centro de Arritmia do Hospital Israelita Albert Einstein. Existem várias causas que explicam essa ocorrência. A principal é o infarto do miocárdio, que é provocado pelo entupimento de uma das artérias coronárias, os vasos que levam o sangue para o coração. Mas isso acontece principalmente nos que já passaram dos 35 anos. “Cerca de 70% das mortes súbitas nessa faixa etária são causadas por infarto”, revela Fenelon.

Na população mais jovem, principalmente pessoas consideradas saudáveis e que praticam atividade física, a obstrução da coronária é algo mais incomum. O que prevalece são doenças no músculo localizado na parte de baixo do coração, onde se encontram câmaras conhecidas como ventrículos. Mas, que fique claro, elas são raras.

“São os ventrículos que nos mantêm vivos”, diz Fenelon. Os átrios, as câmaras localizadas na parte de cima do coração, podem até parar de funcionar, mas o indivíduo muitas vezes não morre. São os ventrículos os responsáveis por garantir que a bomba cardíaca fique ativa. Eles relaxam e se enchem de sangue. Daí se contraem e jogam o líquido adiante.

O que está por trás da morte súbita são justamente arritmias nessa área do órgão. Mas não é todo tipo de alteração nos batimentos cardíacos que provoca óbito. “Há variantes benignas nos ventrículos. Podem incomodar, dar palpitação, mas não causam maior incômodo”, esclarece o cardiologista. No entanto, existem as mais graves, como a taquicardia ventricular e a fibrilação ventricular, que é a parada cardíaca em si.

Na parada cardíaca, acontece algum tipo de desorganização elétrica. Os ventrículos ficam tremendo e deixam de se contrair. O sangue, então, não segue para frente. Se isso não for prontamente revertido, o indivíduo falece.

Existem arritmias que são desencadeadas durante a prática esportiva intensa e vitimam atletas jovens. Esses profissionais ou amadores muitas vezes têm algum problema não detectado, como uma hipertrofia no músculo do coração. Outra enfermidade é displasia do ventrículo direito, mal que também acomete o músculo cardíaco e o torna gorduroso. Essas condições contribuem para a ocorrência das panes elétricas no peito. Já a Síndrome de Brugada, descrita pelos espanhóis Pedro e Josep Brugada nos anos 1990, responde por um percentual pequeno de ocorrências. Ela é provocada por uma mutação genética que pode levar a uma arritmia ventricular. A maioria dos óbitos ocorre quando o indivíduo está em repouso, segundo Guilherme Fenelon.

Esses pacientes requerem acompanhamento e devem tomar remédios porque são doenças progressivas. Muitas vezes, a hipertrofia vai se acentuando, assim como a infiltração de gordura no músculo. Em alguns casos, é necessário colocar um marcapasso especial chamado de desfibrilador automático interno ou CDI (sigla para cardiodesfibrilador interno). “Se o indivíduo apresenta uma dessas arritmias malignas nas quais o coração fica parado, o dispositivo reconhece a situação e libera um choque imediatamente”, descreve Fenelon. Dessa forma, consegue-se restaurar o ritmo normal do coração.

O retorno aos campos ou piscinas vai depender da extensão da doença. Mas o esporte competitivo é contraindicado na hipertrofia do músculo do coração e na displasia do ventrículo direito. Daí a importância de se fazer uma visita ao cardiologista, até mesmo adolescentes esportistas. “É muito difícil alguém com uma doença importante do coração passar despercebido numa avaliação clínica”, afirma Fenelon. Além dessa checagem, realiza-se um exame como o eletrocardiograma, que analisa os batimentos cardíacos em repouso. Se apresentar algo anormal, parte-se para outros testes adicionais.

Os sedentários que já cruzaram a barreira dos 35 anos e pretendem combater o ganho de peso têm de visitar um médico antes de suar a camisa, principalmente se nunca fizeram uma atividade antes. Histórico familiar de enguiços cardiológicos é outro indicativo para uma consulta. “O exercício físico é benéfico, melhora muito a saúde cardiovascular e a sobrevida das pessoas”, fala Fenelon. “Porém, deve haver algum grau de supervisão médica, principalmente se for de alta intensidade.”

(Fonte: Agência Einstein)  

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