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Poluição do ar: muito mais do que problemas respiratórios

Na semana em que o mundo discute os efeitos das mudanças climáticas, pesquisas indicam relação entre poluentes atmosféricos e o aumento de casos de doenças como glaucoma e Alzheimer

13/12/2019 09h30 Atualizado há 4 anos

Por Nicola Ferreira, da Agência Einstein

Geralmente associada a problemas respiratórios, a poluição do ar progressivamente vem sendo relacionada a outras doenças. Agora, pesquisadores americanos da University of Southern California (USC) e britânicos da University College London observaram que moradores de regiões com maior concentração de partículas poluentes são mais suscetíveis ao desenvolvimento de enfermidades como Alzheimer e glaucoma.

Os efeitos da poluição do ar sobre a saúde vêm sendo cada vez mais observados e preocupam os estudiosos. Só no Brasil, sétimo maior emissor de gases que produzem o efeito estufa, houve um aumento de 14% nas mortes em decorrência da poluição nos últimos dez anos, segundo o Ministério da Saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que aproximadamente 4,2 milhões de mortes prematuras são de responsabilidade da poluição atmosférica. Os mais afetados são as crianças e os idosos. “Os dois grupos têm menor capacidade de reação contra as doenças”, afirma a biomédica Nathália Villa, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). “O sistema de defesa deles é mais frágil, e pouco tempo de contato com os poluentes já é suficiente para causar graves problemas.”  O tema é de fundamental importância e entrou definitivamente na pauta das discussões de saúde pública e meio ambiente, como as que ocorrem durante a Cop-25 em Madri, Espanha.

Poluição e o Alzheimer

Para produzir o estudo, os pesquisadores americanos deram periodicamente exercícios de memória para 998 idosas de 73 a 87 anos. Todas as mulheres não apresentavam sinais de demência. Para analisar o desgaste e a atrofia do cérebro, os médicos as submeteram à ressonância magnética cerebral.

A partir do exame, foi observado que as idosas que moravam em áreas com maiores concentrações de poluentes tinham atrofias e problemas no cérebro semelhantes ao de pessoas com Alzheimer. “É a primeira pesquisa que mostra uma associação entre poluentes atmosféricos e alterações cerebrais vinculados a prejuízos à memória”, explica Andrew Petkus, da USC e coordenador da pesquisa.

Isso ocorre devido ao fato dos materiais particulados, partículas emitidas por gases poluentes derivados da queima de combustíveis fósseis, entrarem na corrente sanguínea e se acumularem no cérebro. “Por conta de diversos fatores, o cérebro não consegue se livrar dos compostos químicos que o afetam” – afirma a biomédica. O depósito provoca alterações na produção de proteínas que prejudicam o armazenamento das informações e podem promover, em pessoas saudáveis, quadros de demência semelhantes aos observados em indivíduos com Alzheimer.

A Alzheimer Disease Internation, órgão sem fins lucrativos que busca combater a doença, afirma que aproximadamente 50 milhões de pessoas são portadoras no mundo e que esse número deve triplicar até o ano de 2050. A informação agora publicada contribui com mais uma peça para a ciência estender seu conhecimento sobre a enfermidade, ainda sem cura. “Todo novo estudo nos aproxima de uma solução da epidemia de Alzheimer”, afirma Petkus.

Poluição e o glaucoma

Evitar fontes de poluição pode fazer valer a pena para a saúde ocular, além de outras preocupações para a saúde. O oftalmologista, Paul Foster, da University College London, foi um dos pesquisadores que apresentaram importantes dados sobre a relação entre a poluição do ar e o aumento do risco de surgimento de glaucoma.

O glaucoma é uma enfermidade degenerativa do nervo óptico (estrutura que conecta o olho com o cérebro, onde as informações captadas serão processadas). Ela provoca o estreitamento do campo visual e pode levar à perda da visão. Hoje, a doença é a principal causa de cegueira no mundo. Em 2020, segundo a OMS, a enfermidade deve atingir aproximadamente 80 milhões de pessoas no planeta.

A pesquisa britânica foi feita por meio de testes que mediam a pressão intraocular (dentro do olho) e imagens de tomografias que mediam a espessura da mácula (área central da retina). Participaram do estudo 111.370 indivíduos. As pessoas que moravam em bairros com maior quantidade de poluição por partículas finas possuíam pelo menos 6% mais chances de desenvolver glaucoma do que aqueles que habitavam áreas menos poluídas. Também estavam mais propensas a ter uma retina mais fina, um dos sintomas que resultam na doença. Os cientistas trabalham com duas hipóteses. A primeira é a de que a poluição provoca uma constrição dos vasos sanguíneos, contribuindo para o aumento da pressão ocular, característica da doença. “A segunda é a de que as partículas tenham efeito tóxico direto sobre o sistema, causando inflamação no sistema de captação das imagens pelo olho”, explica Sharon Chua, cientista participante do estudo.

A maioria dos fatores de risco de glaucoma está fora de nosso controle, como idade avançada ou genética. É promissor que agora tenhamos identificado um segundo fator de risco para glaucoma, após pressão ocular, que pode ser modificado por mudanças de estilo de vida, tratamento ou política” – afirma o oftalmologista Foster. O estudo da faculdade londrina corroborou com informações que complementam antigas pesquisas que chegaram a afirmar que moradores de zonas urbanas têm 50% a mais de predisposição ao glaucoma do que aqueles que moram na zona rural.

Benefícios de diminuir a contaminação de poluentes

Um estudo realizado pelo Fórum Internacional das Sociedades Respiratórias (FIRS) constatou que quanto menor a concentração de poluentes na região, melhor a saúde. Uns dos testes mostrou que uma semana longe da poluição pode diminuir em 13% a mortalidade em decorrência da poluição. 26% das pessoas que participaram da pesquisa tiveram uma redução de problemas cardíacos e 32% em derrames. Os mais beneficiados foram aqueles que não fumavam.

“Sabíamos que havia benefícios no controle da poluição, mas a magnitude e as conquistas apresentadas em pouco tempo foram impressionantes” – afirmou o pneumologista e líder da pesquisa Dean Schraufnagel.

Outro evento apresentou uma melhora significativa. O fechamento por 13 meses de uma mina de ferro no estado de Utah, nos Estados Unidos, coincidiu com a diminuição de hospitalizações por pneumonia, bronquite e asma. Foi observado também que as abstenções escolares e a mortalidade diária caíram 40% e 16%, respectivamente. Além disso, houve menos casos de nascimento de bebês prematuros.

Schraufnagel está esperançoso com o futuro. “A poluição do ar é um risco à saúde extremamente fácil de resolver. Crescimento urbano, somado a expansão industrial, aquecimento global e novas pesquisas que mostram os problemas dessa poluição, aumentam o grau de urgência para controlarmos esse problema”.

(Fonte: Agência Einstein)

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