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Placenta contém mutações genéticas encontradas em cânceres infantis

Muitas dessas falhas nos genes podem ser corrigidas e reparadas pelo próprio feto

22/04/2021 09h08 Atualizado há 2 anos

Tiago Varella, da Agência Einstein

Um estudo da arquitetura genômica da placenta humana encontrou evidências de que este tecido é uma espécie de “depósito” para defeitos genéticos e que o feto pode corrigir ou até mesmo evitar esses erros. A pesquisa foi desenvolvida por cientistas da Universidade de Cambridge e publicada na Nature.

Diferentemente de qualquer outro órgão, a estrutura da placenta é semelhante à de um tumor, e contém muitas mutações genéticas encontradas em cânceres infantis. Em cerca de 2% das gestações, algumas células da placenta apresentam um número diferente de cromossomos em relação às células do feto, configurando uma falha genética que pode ser fatal para o feto, mas geralmente a placenta costuma desempenhar as funções de maneira normal.

Para a realização deste estudo, os cientistas sequenciaram o genoma completo de 86 biópsias e 106 microdissecações de 42 placentas, com amostras retiradas de diferentes áreas de cada órgão. Os pesquisadores descobriram que cada uma dessas biópsias era uma ‘expansão clonal’ geneticamente distinta — uma população de células descendente de um único ancestral comum —, indicando uma correspondência entre a formação da placenta humana e o desenvolvimento de um câncer.

A análise observou padrões específicos de mutação frequentemente encontrados em cânceres infantis, como neuroblastoma e rabdomiossarcoma, com um número ainda maior dessas mutações na placenta do que nos próprios cânceres. “Nosso estudo confirma pela primeira vez que a placenta é organizada de maneira diferente de todos os outros órgãos humanos e, de fato, se assemelha a uma colcha de retalhos de tumores. Taxas e padrões de mutações genéticas também foram incrivelmente altos em comparação com outros tecidos humanos saudáveis”, explica Steve Charnock-Jones, um dos autores do estudo.

A equipe fez uma investigação filogenética para rastrear a evolução das linhagens celulares das primeiras divisões das células do óvulo fertilizado e encontrou evidências para apoiar a teoria de que a placenta tolera falhas genéticas importantes. Em uma das biópsias, os pesquisadores observaram três cópias do cromossomo 10 em cada célula, duas da mãe e uma do pai, em vez da habitual cópia de cada um dos pais. Porém outras biópsias da mesma placenta e do feto continham duas cópias do cromossomo 10, ambas da mãe. Um erro no número de cópias cromossômicas como esse seria uma grave falha genética em qualquer outro tecido.

“Foi fascinante observar como um defeito genético tão sério como um erro de número de cópias cromossômicas foi corrigida pelo bebê, e não pela placenta. Esse erro estaria presente no óvulo fertilizado. No entanto, as populações de células derivadas, e mais importante, aquelas que formaram a criança tinham o número correto de cópias do cromossomo 10, enquanto partes da placenta não conseguiram fazer essa correção. A placenta também forneceu um indício de que o bebê havia herdado ambas as cópias do cromossomo de um dos pais, o que pode estar associado a problemas”, complementa Gordon Smith, também autor do estudo.

(Fonte: Agência Einstein)

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