Imagem de Fundo

O elo entre inflamações e doenças

O processo inflamatório faz parte da reação das defesas do organismo, mas, desregulado, tem papel de destaque em diversos problemas de saúde

20/08/2020 09h00 Atualizado há 3 anos

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein

Quando se digita a palavra inflamação (inflammation em inglês) no PubMed, o site da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA que tem mais de 29 milhões de citações de periódicos científicos e afins, chega-se ao número de 725.053. O assunto tem interessado pesquisadores de variados campos da Medicina. Isso porque o processo inflamatório crônico está por trás de várias doenças, como câncer e problemas cardiológicos. “É uma resposta do organismo a qualquer tipo de agressão”, explica o cardiologista Eduardo Pesaro, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. “Pode ser considerado um mecanismo básico de defesa.”

Nessa reação, entram em cena células inflamatórias como macrófagos e linfócitos. Elas integram o sistema imune e têm a função de dar cabo de corpos estranhos, deglutindo-os, além de atacá-los com anticorpos. Essas células são requisitadas em situações diversas: diante de vírus, de bactérias e até mesmo quando ocorre um trauma de joelho. Mas a inflamação pode começar a prejudicar o próprio organismo.

“Isso acontece em dois casos”, explica Pesaro. “Primeiro, quando a resposta contra o inimigo fica exagerada.” Ele prossegue: “Fazendo uma analogia: um exército vai defender seu território do avanço de um adversário, mas acaba atirando em civis e destrói até seus próprios ativos”. É algo que ocorre, por exemplo, na sepse, popularmente conhecida como infecção generalizada. A bactéria tem um papel inicial no problema, mas o corpo reage de forma tão violenta que o paciente apresenta queda da pressão arterial e o pulmão chega a ser infiltrado por células inflamatórias. “A resposta às vezes é mais agressiva do que a própria ação bacteriana”, diz Pesaro.

No segundo caso, existe uma espécie de confusão: o organismo interpreta uma parte dele mesmo como um invasor. “Voltando à analogia do exército: ele acha que ali há uma tropa inimiga, mas na verdade são aliados e os ataca”, descreve o cardiologista. Trata-se de algo que ocorre em todas as doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto, a principal causa de hipotireoidismo – quando a tireoide não fabrica a quantidade ideal de hormônios. Nesse caso, anticorpos investem contra a glândula, encarando-a como um agente intruso.

Além das doenças autoimunes, há males crônicos que são justificadamente inflamatórios, como o câncer. “O organismo fica continuamente inflamado porque ele está atacando as células cancerosas”, fala Pesaro. Outra situação é a aterosclerose, o entupimento das artérias do coração por gordura, o que estreita a passagem do sangue. Trata-se da principal causa de morte em países desenvolvidos. Obesidade, diabetes e tabagismo favorecem sua ocorrência. “Esses fatores de risco inflamam as artérias. Por essa razão, existe uma atividade inflamatória sustentada”, conta o especialista. Em outras palavras, a gordura que é depositada naqueles vasos vira alvo dessa reação. “Essa resposta inflamatória ataca também a parede da artéria, a ponto de eventualmente romper um de seus trechos”, diz o cardiologista. “E essa ruptura leva à deposição de coágulos que entopem definitivamente o vaso.” Isso leva ao infarto do coração.

Segundo Pesaro, não se pode dizer que o fato de encontrar uma inflamação no organismo reduz a expectativa de vida. Cada caso é um caso. Quando há sepse ou pneumonia, por exemplo, uma atividade inflamatória intensa pode representar um maior risco de morte. “Esse quadro também acontece no infarto agudo do miocárdio”, revela o cardiologista. Os especialistas medem esse processo por meio da proteína C-reativa, que está presente no sangue. Quanto maiores seus níveis, maior é a inflamação. Mas num check-up habitual, isso não é necessariamente um indicador de problema. “Foi algo abandonado na década de 2000”, diz o médico.

De maneira geral, a inflamação é tratada em alguns casos e em outros não. “Se a pessoa tem câncer e está com alguma inflamação, tratamos o câncer”, fala Pesaro. O mesmo vale para um infarto e uma infecção. Ou seja, procura-se debelar a doença de base. A exceção são as doenças autoimunes. Além dos traumas: uma pessoa que se machucou jogando tênis, bateu o joelho ou quebrou uma perna. Aí recorre-se a anti-inflamatórios não hormonais.

(Fonte: Agência Einstein)

Notícias relacionadas