
Nilton, o doador voluntário, já salvou centenas de vidas
O baiano de 44 anos vai completar sua 105ª doação neste Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue. Bancos de sangue precisam de mais voluntários para reposição de estoque
Frederico Cursino, da Agência Einstein
Quando Nilton Costa foi doar sangue pela primeira vez, em 2004, descobriu que tinha o perfil adequado para transferência de plaquetas. Encontrar esse tipo de doador é um pouco mais difícil do que o procedimento comum, e a transfusão de plaquetas é muito importante para o tratamento de doenças graves, como leucemias e outros tipos de câncer. Nilton então percebeu que tinha um dom, e incumbiu a si mesmo o compromisso de, ao menos duas vezes ao mês, comparecer a um hemocentro para fazer a doação de plaquetas. Enquanto o sangue total, com todos seus componentes – hemácias, plasma, plaquetas e leucócitos – pode ser doado até quatro vezes por ano por uma mesma pessoa, o limite de doações das plaquetas por homens é bem maior: quatro vezes por mês.
O baiano de 44 anos nunca vestiu capa, nem sobrevoou prédios. Mas é possível que tenha salvado algumas centenas de vidas ao longo desses pouco mais de 15 anos. No último dia 17, completou a sua 104ª doação, segundo ele. E a próxima visita ao hemocentro já tem data marcada: 25 de novembro, Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue.
“Atualmente faço doação para nove hospitais em São Paulo. Decidi doar por saber que estou ajudando alguém, independentemente de conhecer a pessoa ou não. Alguns me perguntam se já tive caso de câncer na família, mas eu respondo que é um compromisso que eu tenho, e se fosse eu quem estivesse precisando, também gostaria que alguém fizesse o mesmo por mim”, conta o doador.
A missão também exige empenho. Nilton trabalha em dois turnos: à tarde, na construção civil, e à noite, como porteiro. Para comparecer aos bancos de sangue com tamanha frequência, é preciso se programar. Mas ele afirma que, nessa década e meia, só usou o atestado médico uma única vez: “Tenho duas preocupações: com a empresa, para não a prejudicar, e com a pessoa que está esperando a minha doação, e que não pode esperar. Por isso, eu também tenho que fazer um esforço.”
Toda essa aplicação tem se multiplicado em tantas outras vidas salvas. Calcula-se que, em uma única transfusão, cada doador possa ajudar de três a quatro pessoas. Isso significa que Nilton teria mudado a vida de até 400 pacientes ao longo de sua jornada de doador: “Um colega até me falou uma vez: você já parou para pensar que tem sangue seu em pessoas no Brasil inteiro?”, brinca.
Apesar da aura de quase herói anônimo, por tantas pessoas ajudadas ao longo da vida, o porteiro e construtor civil nem sempre age como um paladino invisível. Ele diz que, muitas vezes, já conheceu pacientes receptores de seu sangue, e uma das histórias, inclusive, o emociona. Na ocasião, um paciente de 35 anos que passaria por um transplante de medula óssea chorou ao vê-lo entrar em seu quarto: “Eu olhava para ele, ligado a aparelhos, e isso cortava o meu coração. Uma semana depois, ele acabou falecendo. Até hoje não esqueço”, conta.
Hemocentros em estado crítico
A pandemia do novo coronavírus afetou gravemente os hemocentros de todo o País. Segundo a Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde foi registrada, em outubro, uma queda em torno de 20% nos estoques em comparação ao mesmo período do ano passado. Na Fundação Pró-Sangue, em São Paulo, os profissionais de saúde estão operando com apenas 30% do necessário. E, de acordo com a médica da instituição Helena Sabino, está difícil reverter a situação. “Estamos trabalhando com estoque para três dias no máximo, sendo que muitas vezes, temos apenas para um dia. Com isso, estamos precisando priorizar os pacientes mais graves, e deixar de atender alguns”, conta.
Helena conta que apenas a fundação é responsável por atender, em média, 100 hospitais da capital e Grande São Paulo. Para suprir o que seria a demanda normal dessas instituições, seria necessária a coleta de 9.500 bolsas de sangue por mês. No momento, a média tem sido de pouco mais de 6.500. “Com a retomada dos procedimentos eletivos, os hospitais ficaram com uma demanda acumulada, enquanto as doações não voltaram ao ritmo pré-pandemia, porque as pessoas ainda estão receosas”, explica.
A médica da Fundação Pró-Sangue ressalta que a doação não se torna mais arriscada por causa da pandemia (não dá para pegar Covid-19 por transfusão, por exemplo), e que as equipes têm cuidado de todas as questões de segurança durante o trajeto e espera dos pacientes. Entre elas estão o agendamento obrigatório, para evitar aglomeração nas salas, funcionários paramentados, e cadeiras com maior distanciamento.
“Precisamos da ajuda de todos. A situação está bastante preocupante e deve piorar ainda mais com a chegada das festas de fim de ano, quando normalmente temos uma demanda grande”, alerta.
“Não tem nada mais universal que a doação de sangue. Todos podemos precisar um dia, e a responsabilidade é coletiva. Além disso, a maior parte das pessoas é candidata. É um procedimento bastante seguro, não causa danos à saúde e, quando há intercorrência, é um mal estar leve”, acrescenta Helena.
No site da Fundação Pró-Sangue, estão listados os requisitos básicos e impeditivos para quem quiser fazer a doação. Homens precisam respeitar um intervalo de 60 dias e, mulheres, de 90 dias. No caso da doação de plaquetas, o intervalo é de 72 horas. Outras condições são ter entre 16 e 69 anos (desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos), pesar no mínimo 50kg, estar descansado e alimentado, não ser usuário de drogas, nem ter ingerido bebidas alcoólicas nas últimas 12 horas. Para mulheres, a doação é impeditiva durante o período de gravidez, amamentação nos primeiros 12 meses e 180 dias após a cesariana. Confira a lista completa de requisitos aqui.
(Fonte: Agência Einstein)