
Na pandemia, redes sociais ajudaram a aumentar casos de depressão e traumas secundários em Wuhan
Estudo da Penn State e da Universidade de Jinan constatou que uso excessivo do WeChat contribuiu para problemas de saúde mental na população. No Brasil, crescimento de exposição às telas elevou ansiedade entre os jovens
Por Frederico Cursino, da Agência Einstein
O uso excessivo das redes sociais durante a pandemia pode ter contribuído para que os habitantes da cidade chinesa Wuhan, primeiro epicentro da Covid-19 no mundo, desenvolvessem depressão e traumas secundários da doença. A constatação vem de um estudo desenvolvido pesquisadores das universidades Penn State, nos Estados Unidos, de Jinan, na China, publicado pelo jornal acadêmico Computers in Human Behavior.
O trabalho analisou 320 indivíduos, todos habitantes locais e sem histórico de transtornos depressivo ou traumático. Na primeira etapa – realizada em fevereiro, duas semanas após o fechamento da cidade por conta da epidemia –, os participantes responderam questionários online sobre o uso do WeChat, aplicativo de mídia social mais popular da China, para obtenção de informações da doença. Em seguida, os pesquisadores utilizaram um método criado para medir a dependência do Facebook por meio da avaliação do uso do WeChat pelos voluntários. Com esses dados, a equipe analisou as mudanças de humor do grupo no período de uso da mídia social.
Mais da metade dos entrevistados relatou algum nível de depressão, com quase 20% deles em graus moderado ou grave. Entre aqueles que manifestaram trauma secundário, a maioria (80%) apresentou um nível baixo, enquanto 13% relataram trauma moderado e 7%, alto.
“Descobrimos que o uso da mídia social foi recompensador até certo ponto, pois fornecia suporte informativo, emocional e de colegas sobre assuntos de saúde relacionados à Covid-19”, afirma Bu Zhong, professor associado de jornalismo da Penn State, e um dos autores do estudo. “No entanto, o uso excessivo da mídia social levou a problemas de saúde mental. Os resultados mostram que fazer uma pausa nas redes sociais pode promover o bem-estar durante a pandemia, crucial para mitigar os danos à saúde mental infligidos neste momento.”
O estudo destaca que, embora as informações possam ajudar a diminuir o estresse em eventos como o da Covid-19, a busca deliberada por notícias também ampliaria a sensação de incerteza devido ao vasto número de informações disponíveis. Com isso, o indivíduo tende a se sentir perdido diante da enormidade de alternativas e boatos, muitas vezes, contraditórios entre si.
Os pesquisadores destacaram ainda que, no caso da China, a censura do governo aos canais de mídia tradicionais ampliou o uso das redes sociais na busca por notícias sobre a doença. Segundo os autores, embora essas mídias também sofram algum nível de controle pelo Estado, a censura não tem a mesma rapidez e abrangência do que nos canais oficiais.
Aumento do estresse entre adolescentes no Brasil
No Brasil, um levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostrou que 68% dos adolescentes entre 12 e 18 anos tiveram aumento de ansiedade e irritabilidade desde o início da epidemia no Brasil. Ao mesmo tempo, a exposição dos jovens às telas (TV, computadores, tablets, smartphones e jogos) também teve crescimento substancial. Antes da pandemia, 17% dos brasileiros dessa faixa etária utilizavam essas tecnologias por mais de seis horas diárias. Durante o isolamento social, o índice subiu para quase 60%.
De acordo com o urologista Daniel Suslik, um dos autores da pesquisa, o aumento da exposição dos jovens à internet está ligado a uma experiência essencial nessa faixa etária, mas da qual esse público acabou privado com o isolamento:
“A convivência em grupo é fundamental para que o adolescente adquira a própria identidade e sua posição dentro da sociedade. Mas o isolamento impediu a reunião de grupos. Ainda hoje, após sete meses, não temos a mesma sociabilidade do início do ano. Com isso, eles tentam encontrar a substituição na internet, fazendo com que passem grande parte do dia diante das telas. Isso certamente está relacionado ao quadro que detectamos de maior de ansiedade e mudanças de humor”, explica Suslik.
(Fonte: Agência Einstein)