Imagem de Fundo

Livres da internet

Em oposição às pessoas que não conseguem ficar longe da vida online, cresce o movimento dos que defendem o alívio de sair do mundo virtual. É o Jomo, acrônimo de joy of missing out, ou a alegria de não estar por dentro do que se passa na internet

01/11/2019 09h00 Atualizado há 4 anos

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein

A atriz Cassia Kiss já desfruta. Os atores Bradley Cooper e Benedict Cumberbatch também desfrutam do alívio de não ficarem 24 horas ligados no que acontece online. Eles integram um movimento que cresce no mundo batizado de Jomo, acrônimo de joy of missing out, algo como a alegria de não estar por dentro de tudo. É uma reação de quem não quer fazer parte do time da imensa maioria das pessoas, que estão sob a influência do Fomo, ou o fear of missing out. Ou seja, sob a escravidão do medo de ficar de fora do mundo virtual. O que os defensores do Jomo questionam é se precisamos mesmo saber qual foi o último vídeo viralizado ou seguirmos as hashtags mais mencionadas, por exemplo.

O questionamento é oportuno e vem muito embasado em pesquisas recentes mostrando como o hábito de ficar online por tempo demais traz prejuízos que vão da ansiedade e da depressão à dependência. Em relação à primeira doença, é fácil compreender o mecanismo. Nas redes sociais, todos são lindos e perfeitos, bem diferente da vida real. Sem um amadurecimento emocional importante, o indivíduo pode se sentir permanentemente aquém do que o mundo virtual exibe. Como a vida de todos é tão linda se a dele não é tão maravilhosa assim? De que maneira aquele seu amigo que só vê pelas redes pode desfrutar toda semana de lindos momentos com a família se ele mal consegue tempo para dormir? A autoestima é a primeira a perecer. Além disso, o medo de não pertencer a determinado grupo é do ser humano. Não ser aceito é como ser um peixe fora d’água. “E sentir-se um peixe fora d’água não é fácil na nossa cultura”, explica o psiquiatra Alfredo Maluf, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Em relação à dependência, o caminho fisiológico/comportamental é o mesmo que pode fazer com quem alguém se torne dependente de comida ou exercício físico, por exemplo. “Praticar exercícios para ter saúde é uma coisa. Mas, se a pessoa começa a ficar dependente e não sai da academia, não sobra mais espaço na agenda para nada”, explica o psiquiatra. Além disso, uma cascata de reações do corpo aciona o sistema de recompensa: quanto mais você faz, mais sente prazer e mais difícil pode ficar para estabelecer um limite.

Há o risco de o corpo querer sempre mais e mais. A dependência digital por jogos, inclusive, já está inclusa na normativa da Classificação Internacional de Doenças (CID 11), da Organização Mundial de Saúde. E provavelmente ela deve ser ampliada com o acréscimo de outras condições, por assim dizer, viciantes que tenham a ver com o universo de bits e bytes. Quando se está dependente dos jogos online, os sintomas são semelhantes aos de quem fica sem acesso a uma droga ou a outras substâncias, algumas inclusive benéficas, como a endorfina liberada após os exercícios físicos: além de ansiedade, a pessoa sente taquicardia, pressão alta, suor em excesso, náuseas e vômitos. Pode ocorrer também insônia, anorexia, hiperfagia (vontade de comer em exagero).

O medo de não ter acesso ao celular ou à internet também tem classificação. É nomofobia. Uma saída para não desenvolver essa ou outras condições é procurar o equilíbrio. Veja abaixo algumas orientações que podem ajudar:

– Pare de seguir ou tire de sua lista de amigos que lhe causem sentimentos negativos, como inveja ou raiva

– Coloque-se limite de tempo para navegar online

– Foque no seu tempo e nas suas atividades. Resista à tentação de ver o que os outros estão fazendo nas redes sociais e ganhe mais horas para você

– Cultive o silêncio enquanto estiver no trânsito, por exemplo. Em vez de ir para o celular, ouça um podcast sobre um assunto que lhe interessa ou foque nos seus pensamentos

– Pratique (isso mesmo, pratique!) mais a vida real: prepare a comida com o filho, dê uma caminhada pelo bairro, brinque com seu cachorro. Serão deliciosos minutos offline

(Fonte: Agência Einstein)

Notícias relacionadas