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Estudo brasileiro identifica casos de Zika em recém-nascidos sem sintomas da doença

O trabalho, realizado por pesquisadores da Fiocruz Bahia, mostra a necessidade do acompanhamento dessas crianças na primeira infância

22/04/2020 09h15 Atualizado há 3 anos

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein

Uma pesquisa conduzida por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia revela: casos de infecção causada pelo vírus da Zika foram identificados em bebês que nasceram sem sintomas da doença ou alterações causadas por ela, como a microcefalia. O estudo foi realizado em 2016, depois da ocorrência da epidemia do vírus na capital baiana em 2015. Salvador foi uma das primeiras cidades a registrar o nascimento de bebês com microcefalia e uma das mais afetadas no país, como lembra a infectologista Isadora Siqueira, que é pesquisadora da Fiocruz Bahia. Ela é a autora principal do trabalho, que foi publicado no início deste ano na revista científica International Journal of Gynecology and Obstetrics.

A iniciativa foi levada a cabo na maternidade Professor José Maria Magalhães Netto, que é pública. “Convidávamos todas as mães que iam ter bebê lá e apresentaram suspeita de Zika”, conta Isadora. Na época ainda não havia um exame para confirmar a enfermidade, daí dava-se atenção ao relato de sintomas como febre e manchas vermelhas pelo corpo, o exantema. No total, foram avaliados 151 bebês recém-nascidos. Foram coletadas amostras de tecido placentário, sangue, sangue do cordão umbilical e urina dos bebês para detectar a presença do vírus.

Os resultados mostraram que 21% deles, ou 32, tinham microcefalia, sendo que cinco foram considerados como grave. Nesses pequenos, foram identificados anticorpos para o micro-organismo. Eles também foram submetidos a um exame de imagem, o ultrassom transfontanela, para checar se existia alguma alteração cerebral compatível com a redução anormal da cabeça.

Das 119 crianças que nasceram com o crânio simétrico e arredondado, 17 foram diagnosticadas com a infecção congênita. Em quatro, o resultado positivo veio do exame de sangue e nos outros 13, dos testes de urina. “O diagnóstico no bebê é difícil”, diz Isadora Siqueira. Isso porque a gestante pode se contaminar, o vírus passar pela placenta, causar estragos no feto, mas o bebê vem à tona sem o micro-organismo.

Daí a necessidade de se fazer um acompanhamento multidisciplinar dessas crianças depois do nascimento, sobretudo do seu desenvolvimento neurológico. Estudos da Fiocruz na Bahia e no Rio de Janeiro mostraram que 30% desses meninos e meninas assintomáticos ao nascerem podem apresentar linguagem e cognição prejudicadas. “O vírus talvez tenha feito um dano mais discreto”, fala a pesquisadora. Em caso de atraso na fala e afins, pode ser útil a assistência de um fonoaudiólogo.

 (Fonte: Agência Einstein)

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