
Esquistossomose: um mal ainda brasileiro
A doença da barriga d’água é considerada endêmica no país
Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein
A Organização Mundial de Saúde estima que um número um pouco maior do que o total da população brasileira, ou mais de 220 milhões de pessoas ao redor do mundo, requere um tratamento preventivo contra a esquistossomose, doença causada pelo Schistosoma mansoni, um verme encontrado em água doce. Ele vai parar em rios e lagos via fezes de pessoas contaminadas. Esses dejetos levam os ovos do verme, que eclodem na água, liberando larvas que infestam seu hospedeiro intermediário, o caramujo (veja como ocorre a transmissão no quadro abaixo). No Brasil, o problema é considerado endêmico, com cerca de 1,5 milhão de pessoas vivendo em áreas de risco de contaminação. As regiões mais visadas do país são o Nordeste e estados do Sudeste como Minas Gerais e Espírito Santo.
Por que essa enfermidade, também conhecida como barriga d’água, persiste entre nós? “O principal motivo é a presença do caramujo, cuja erradicação não é simples”, explica Luis Fernando Aranha, professor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. Além disso, entram nessa conta os pacientes não tratados, que são transmissores do verme, e os hábitos higiênicos, em parte derivados da ausência de saneamento básico. Isso afeta até a indústria do turismo.
Otávio Sarmento Pieri, professor titular de saúde pública do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, cita artigo das pesquisadoras Constança Simões Barbosa, Mariana Sena Barreto e Elainne Christine de Souza Gomes, da Fundação Oswaldo Cruz em Pernambuco, sobre o caso de indivíduos da zona rural parasitados com o Schistosoma mansoni e que foram trabalhar em áreas turísticas no litoral daquele estado, como Porto de Galinhas. Os caramujos foram introduzidos por meio da areia retirada de um rio e usada na construção civil. Sem falar nas condições sanitárias inadequadas. Em 2000, já existiam 15 focos de transmissão de esquistossomose, sendo registrado o primeiro surto epidêmico da doença na região. Hoje, o problema é considerado endêmico, não só lá, mas também em outros pontos do litoral do Brasil.
Daí a necessidade de se investir em saneamento. “Sem dúvida, é o ponto mais relevante, associado a identificação e tratamento de portadores e combate ao hospedeiro”, diz Aranha. Para ter uma ideia, 83,6% da população do país têm acesso ao abastecimento de água. Já a rede de esgoto atende a 53,2% dos brasileiros. E apenas 46,3% do esgoto gerado recebe tratamento no País. “O saneamento é fundamental, mas só ele não vai resolver o problema”, diz Otávio Pieri. De acordo com o professor de Saúde Pública, na década de 1950 tentou-se eliminar o caramujo jogando sulfato de cobre nas águas. “Mas é um metal pesado que fica ali pelo resto da vida.” Veneno em pó também é outra possibilidade, porém o impacto ambiental é grande. “É necessário descobrir uma substância que só mate o caramujo”, diz Pieri.
O grande problema para a saúde da pessoa com esquistossomose é presença dos ovos do Schistosoma mansoni no fígado. Ali, como explica Luis Fernando Aranha, ele causa uma reação inflamatória que provoca um aumento da pressão no sistema venoso do órgão e seus tributários, o sistema porta – ou seja a veia de mesmo nome, que transporta o sangue dos intestinos para o fígado, e outros vasos. Esse quadro também pode acometer as veias dos pulmões.
O comprometimento do fígado leva à hipertensão da veia porta. Isso se manifesta ao longo dos anos como crescimento do volume abdominal. Eis a razão da alcunha barriga d’água. “Quando há acometimento pulmonar, a pressão dos pulmões se eleva, o que se manifesta por falta de ar grave e progressiva”, explica Aranha. Na forma aguda da doença, acontece transmissão maciça dos agentes infecciosos, ocorrendo febre alta, aumento no sangue de eosinófilos, células de defesa que atuam contra parasitas, e lesões de pele, onde há entrada dos protozoários, completa o especialista.
Para debelar a esquistossomose, a droga mais eficaz é o praziquantel, um antiparasitário. “Os tratamentos em geral são curtos e eficazes, exceto em situações onde já existe lesão orgânica avançada”, diz Aranha. A eficácia da droga é de 60% a 70% e ela não é indicada para grávidas. Ela é distribuída pela Sistema Único de Saúde (SUS).
Como ocorre a transmissão
- A pessoa contaminada elimina os ovos do Schistosoma mansoni por meio das fezes
- Quando entram em contato com a água, esses ovos eclodem e liberam larvas. Elas infectam os caramujos. Ali, se reproduzem assexuadamente.
- Depois de quatro semanas, milhares de larvas, chamadas de cercárias, deixam o caramujo e vão parar nas águas de rios, lagos, córregos e ribeirões. A contaminação ocorre ao se entrar em contato com essas águas. As cercárias penetram pela pele.
- Dentro do organismo, os vermes fixam residência nas veias mesentéricas, no intestino, as responsáveis por drenar o sangue cheio de nutrientes e conduzi-lo ao fígado. Naquele local, botam ovos, que são excretados via fezes.
(Fonte: Ministério da Saúde)
(Fonte: Agência Einstein)