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Entrevista: ‘Cuidar da visão é também cuidar da sociedade que queremos ter’, diz Claudio Lottenberg

No mês de conscientização sobre os diversos tipos de cegueira, o oftalmologista Claudio Lottenberg chama a atenção para o impacto social da perda de visão.

27/04/2023 07h59 Atualizado há 384 dias

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 2,2 bilhões de pessoas sofrem com algum grau de perda de visão no mundo. Dessas, 1 bilhão poderia ser prevenido ou tratado. Isso porque entre as principais causas estão a catarata e os chamados erros de refração (miopia, hipermetropia, presbiopia e astigmatismo), além de glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética – todos problemas que podem ser identificados precocemente e tratados. Mas, para se ter uma ideia, entre as pessoas que precisam óculos, menos da metade (43%) faz uso deles, estima artigo publicado no “The Lancet”.

Claudio Lottenberg

No mês dedicado à conscientização sobre os diversos tipos de cegueira, o chamado Abril Marrom, a Agência Einstein conversou com Claudio Lottenberg, oftalmologista, Presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e Presidente Institucional do Instituto Coalizão Saúde (ICOS) sobre os impactos da perda da visão e a importância do tratamento precoce.

Agência Einstein – Qual seria a principal forma de prevenir os problemas de visão e a cegueira?
Claudio Lottenberg – Há inúmeras causas reversíveis, mas uma das principais é a falta de óculos. Então é estarrecedor que algo tão básico leve à perda de visão e que uma medida muito simples possa reverter esse quadro. A gente deveria ter mais ações para prescrição de óculos a quem precisa. E a falta de óculos traz um impacto enorme. Nas crianças, o sistema visual amadurece desde o nascimento até a primeira infância, lá pelos 6 ou 7 anos – alguns autores consideram até os 12. Se há um problema de visão e os olhos não recebem o estímulo correto, o sistema não vai se desenvolver de forma adequada e essa criança não vai chegar a ter visão 100%. Além disso, pode haver repercussões na visão de profundidade.

Quais outros problemas reversíveis podem levar à cegueira?
Com o aumento da expectativa de vida, aparecem doenças que não eram tão presentes, como a catarata, que atinge cerca de 60% da população acima dos 60 anos. Hoje, com a cirurgia, além de retirar a catarata conseguimos devolver ao paciente a capacidade de enxergar sem óculos. Já o glaucoma está muito associado à alta pressão intraocular, mas nem sempre isso ocorre. É uma doença do nervo ótico e temos diagnosticado muitos casos de glaucoma de baixa pressão. A degeneração macular relacionada à idade, por sua vez, afeta 20% das pessoas com mais de 70 anos. Hoje há tratamento com medicamentos que impedem a evolução da doença. Todos esses problemas podem ser diagnosticados precocemente e tratados antes de levar à perda irreversível da visão. Daí a importância de consultas de rotina desde a primeira infância, mesmo que a pessoa não apresente sintomas.

De que forma a simples falta de óculos afeta o desenvolvimento da pessoa?
O impacto cognitivo de não enxergar bem é muito grande. Às vezes o jovem tem baixo rendimento escolar porque tem um problema de visão que não foi detectado e tratado. Quem sofre de hipermetropia, por exemplo, sente muito cansaço ao ler de perto. E tudo isso aparece como problemas no rendimento escolar e de integração social.

Os problemas de refração podem até afetar a personalidade. Por não enxergar bem de longe, os míopes muitas vezes são tímidos, o que acaba prejudicando até a socialização.

Para um adulto é mais fácil identificar quando sente dificuldade de enxergar, mas a criança pode não entender sua dificuldade e até os motivos do seu isolamento.

E qual o impacto na sociedade como um todo?
Os problemas de visão refletem o perfil de sociedade que temos hoje. Por todos os motivos acima, acho que o Brasil perde muito por não tratar os vícios de refração. Cuidar da visão é também cuidar da sociedade que queremos ter.

Fonte: Agência Einstein

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