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Engravidar entre 10 e 13 anos aumenta em 56% o risco de parto prematuro em comparação com meninas mais velhas

Riscos da gravidez na adolescência são conhecidos, mas este é o primeiro trabalho a separar os riscos por faixa etária; pesquisa analisou dados de mais de 90 mil partos.

15/12/2022 08h00 Atualizado há 350 dias

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

A ciência já sabe há muito tempo que a gravidez na adolescência aumenta o risco de complicações na saúde da mãe e do bebê. No entanto, um novo grande estudo publicado no Jama foi além e analisou os riscos de acordo com a faixa etária e constatou que engravidar entre 10 e 13 anos aumenta em 56% o risco de parto prematuro e em 32% o de uma cesárea, em comparação com adolescentes que ficam grávidas entre 14 e 17 anos.

Os pesquisadores analisaram dados de mais de 90 mil partos feitos em meninas pré-adolescentes, adolescentes e jovens com idades variando de 10 a 19 anos feitos em 655 hospitais nos Estados Unidos. Esse é o primeiro estudo que faz esse tipo de análise por faixa etária e reforça a necessidade de falar sobre educação sexual.

De acordo com o levantamento, dos 90.876 partos analisados, 206 ocorreram em meninas de 10 a 13 anos. Do total de partos nessa faixa etária, 18,5% foram partos prematuros, contra 11,6% dos partos das adolescentes de 14 a 17 anos e 10,5% dos partos das jovens até 19 anos. Além disso, o estudo mostrou ainda que 22% das meninas mais novas deram à luz por cesárea, em comparação com 16,4% das adolescentes e 20,1% das mulheres jovens. As cesáreas podem aumentar risco de morte materna por causa do risco de hemorragia, de trombose ou de infecções.

Sejam espontâneos ou por indicação médica, os partos prematuros podem causar complicações à saúde da mãe e da criança: a mulher pode ter quadros de hipertensão e problemas de saúde mental (que incluem depressão pós-parto e transtorno de estresse). Já as crianças que nascem de parto prematuro têm mais risco de terem problemas respiratórios e de neurodesenvolvimento.

O estudo constatou, ainda, que 18,5% das meninas entre 10 e 13 anos desenvolveram pré-eclâmpsia (quadro de pressão alta) na gravidez, contra 16,2% das adolescentes de 14 a 17 anos e 15,7% das jovens de 18 e 19. Por último, outro resultado dos pesquisadores é que mais de dois terços das meninas que deram à luz na faixa etária mais nova eram negras ou hispânicas.

Impacto também na saúde mental

Rômulo Negrini, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, elogiou a realização desse trabalho especificando os riscos da gestação por cada faixa etária. “Essa não é uma população que fica frequentemente grávida [meninas entre 10 e 13 anos]. Já conhecíamos os riscos da gestação na adolescência de uma forma geral, especialmente de parto prematuro e de hipertensão gestacional, mas não tínhamos isso bem definido por idade”.

Negrini ressalta que a gravidez na infância traz impactos e riscos à saúde que não são apenas biológicos, mas também psicológicos. “Uma menina que fica grávida aos 10 anos de idade certamente não planejou essa gravidez. Muitas vezes ela nem sabe que está grávida até perceber as mudanças no corpo. Por isso, demora muito a buscar atendimento pré-natal”, explica.

Além disso, o médico destaca que a maioria das meninas que engravida nessa faixa etária foi vítima de um abuso sexual cometido dentro da própria casa ou por parentes próximos, que têm uma convivência mais intensa. E, por isso, têm medo de falar sobre o assunto. “Toda essa exposição precoce à atividade sexual tem sérias consequências à saúde mental dessa criança. Quando ela se dá conta de que está grávida surge a negação, a revolta”, pondera.

Outro problema da gravidez nessa idade é que o corpo não está preparado para lidar com as mudanças provocadas pela gestação e pelo parto. A criança tem a bacia e a pélvis menores e ela não consegue expandir na proporção ideal para a gravidez. “A gestação provoca transformações muito grandes no corpo da mulher, especialmente hormonais. E para uma menina de 10 anos passar pelo processo de parto é algo bastante estranho e doloroso”, finalizou Negrini.

Fonte: Agência Einstein

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