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Casos de transtornos alimentares em crianças nos EUA aumentam 87% após pandemia

Levantamento da Universidade de Harvard feito em 38 hospitais pediátricos mostra um aumento expressivo da doença em meninos e meninas

22/02/2023 08h00 Atualizado há 437 dias

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

O volume de consultas em pronto-atendimento de pacientes com transtornos alimentares aumentou consideravelmente durante e após a pandemia e ainda não voltou aos patamares anteriores, segundo um levantamento que acaba de ser finalizado nos Estados Unidos.

Estudos apontam um aumento na incidência e na gravidade desses distúrbios após a emergência sanitária global. Para avaliar esse impacto, pesquisadores da Universidade de Harvard examinaram os registros mensais de 38 hospitais pediátricos nos EUA de pacientes com idades entre 12 e 17 anos em dois momentos: antes da pandemia (entre janeiro de 2018 e março de 2020) e, depois, de abril de 2020 a junho de 2022.

Os números mostram que 27 meses antes da crise do coronavírus houve 2.793 visitas relacionadas a transtornos alimentares. Esse valor subiu para 5.217 no mesmo intervalo de tempo após o surgimento da Covid-19, ou seja, um aumento de quase 87%. Esses pacientes procuram os serviços com quadros como desidratação intensa, grande perda de peso e até alterações no ritmo cardíaco.

Mudanças bruscas na rotina, o isolamento social, o estresse da pandemia e até mesmo o acesso limitado a tratamentos agravaram distúrbios psicológicos, como ansiedade e depressão. Os pesquisadores também notaram o aumento de transtornos alimentares como compulsão, anorexia e bulimia.

“Os adolescentes ficaram mais restritos ao ambiente familiar, prejudicando a relação com os pares. Num primeiro momento isso melhorou a escolha de alimentos, mas o excesso de estímulos tecnológicos favoreceu um maior envolvimento com influenciadores digitais e o mundo virtual se tornou a grande referência”, observa a pediatra Alda Elizabeth Boehler Iglesias Azevedo, presidente do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Para os jovens suscetíveis a transtornos, isso trouxe mais dificuldade em lidar com o corpo. O próprio isolamento afeta a construção da imagem corporal, pois esse processo também depende dos estímulos externos. “A distorção dessa percepção, a grande insatisfação e a preocupação com o corpo geram atitudes e comportamentos negativos e destrutivos”, completa a pediatra.

Prevenção

Os transtornos alimentares afetam cerca de 9% das pessoas no mundo todo. A grande maioria das pessoas com essa doença é de mulheres com pico de início entre os 15 e 19 anos, segundo dados da ANAD (National Association of Anorexia Nervosa and Associated Disorders, que em tradução livre é Associação Nacional de Anorexia Nervosa e Distúrbios Associados). Fatores genéticos, ambientais e familiares estão entre as causas. Em 70% dos casos, há também outros distúrbios psiquiátricos, como bipolaridade, ansiedade e depressão.

“O pediatra é fundamental na prevenção e para auxiliar o paciente e sua família a implementar hábitos saudáveis de alimentação e atividade física e, é claro, desestimular dietas e uso de medicamentos para emagrecer”, diz a médica.

Azevedo observa que, apesar de ser mais comum entre as meninas, os transtornos alimentares também afetam meninos em diferentes faixas etárias, inclusive, naqueles que praticam esportes. “Também é preciso aumentar a conscientização sobre relações problemáticas com alimentos ou exercícios em meninos, algo que vem sendo muito relatado em atletas dessa idade”, acrescenta.

As refeições em família e as conversas sobre a imagem corporal, prestando atenção ao que o adolescente fala sobre si mesmo, também são essenciais. “O consumo de informações na internet sobre comportamento alimentar e imagem corporal deve ser cauteloso pois é fonte de grande influência negativa”, diz a médica.

O diagnóstico precoce aumenta a chance de sucesso, além de ajudar a evitar que a doença cause maiores prejuízos à saúde física e emocional ou se instale a longo prazo. Nos adultos, o tratamento é mais difícil, com altos índices de morbidade e mortalidade.

Quando devo me preocupar?

Os sinais nem sempre são óbvios, mas vale ficar atento se:

  • O adolescente tem uma alimentação bagunçada, com comportamentos problemáticos como fazer todo tipo de dieta, pular refeições, ou apresentar sentimentos de vergonha evitando comer em público;
  • A pessoa passa a eliminar certos grupos de alimentos como laticínios, carnes, sobremesas;
  • Faz uso de remédios como esteroides, pílulas dietéticas, laxantes;
  • Pratica atividade física em excesso, sendo incapaz de tirar um dia de descanso;
  • Nem sempre o transtorno está associado à magreza. Em alguns casos, o anoréxico pode ter medo intenso de engordar, mas não está excessivamente magro. Ainda assim, pode precisar hospitalização por desnutrição, batimentos cardíacos lentos demais ou pressão baixa.

Fonte: Agência Einstein

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