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As células-tronco mutantes que podem ser um novo fator de risco para leucemia

Pesquisa do Einstein analisa o papel delas em casos de câncer no sangue. Suspeita-se que elas também estejam por trás de ataques cardíacos e AVC

04/10/2019 11h37 Atualizado há 4 anos

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein

 

Hematopoiese clonal de potencial indeterminado ou CHIP, na sigla em inglês. O nome complicado diz respeito a células-tronco mutantes que surgem na medula óssea. Os primeiros estudos internacionais sobre esse tipo de alteração foram publicados em 2014. Os cientistas descobriram a CHIP depois de analisar os genes de milhares de pacientes sem doenças hematológicas. Dessas células-tronco modificadas surgem glóbulos brancos, células de defesa, também mutantes.

“A incidência dessa alteração é maior em idosos”, explica o hematologista Paulo Campregher, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. “Cerca de 10% das pessoas acima dos 60 anos apresentam CHIP”, diz o especialista, que está conduzindo uma pesquisa sobre o tema. “Ela é o primeiro passo para o desenvolvimento de leucemia e outros tipos de câncer no sangue”, revela Campregher.  Em outras palavras, o paciente leucêmico passou por um estágio de CHIP. Mas isso não quer dizer que a pessoa que tenha essas células mutantes vá necessariamente ter o problema.

O hematologista pretende analisar amostras de DNA 175 idosos. Já chegou à marca de 180. Os voluntários são do Ambulatório de Geriatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Residencial Israelita Albert Einstein, que é mantido pelo Einstein. A média de idade dos participantes é de 85 anos. Os resultados do trabalho, que tem financiamento do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON), do Ministério da Saúde, devem ser publicados no ano que vem.

Segundo o pesquisador, existem exames como o Papanicolau, que detectam lesões precursoras de câncer de colo de útero, e a colonoscopia, que identifica pólipos intestinais que podem se tornar tumores. Mas não há nada semelhante nos cânceres sanguíneos. As pesquisas sobre CHIP podem mudar esse panorama. “Nos próximos anos, vamos identificar os pacientes com CHIP de alto risco e as características que sejam capazes de predizer uma evolução mais rápida para a leucemia, além de descobrir como tratá-los”, acredita Campregher. “Em nosso projeto, vamos fazer estudos funcionais com células dessas pessoas para ver se é possível eliminar a CHIP ou estacioná-la.”

Doenças cardiovasculares

Essa forma de alteração não é hereditária. Ela é adquirida, provavelmente, devido à exposição a substâncias cancerígenas, como poluentes, ou mesmo ao acaso. Além de leucemia, a CHIP está associada a maior ocorrência de problemas cardiovasculares como AVC e ataque cardíaco. “Alguns dados sugerem que ela esteja envolvida na formação das placas de aterosclerose”, diz Campregher. Os glóbulos brancos alterados participariam do processo inflamatório que leva ao entupimento dos vasos e, como consequência ocasionariam casos de derrame e infarto. “Tenho convicção de que o conhecimento sobre hematopoiese clonal vai revolucionar a prática médica na área de hematologia e talvez a de cardiologia também”, finaliza o pesquisador.

(Fonte:  Agência Einstein)

 

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