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Laboratório de Microbiologia do Einstein - Crédito: Felipe Lampe/Divulgação Einstein

As bactérias que fazem bem para você

Novas pesquisas mostram por que os micro-organismos ajudam na prevenção e tratamento de doenças – obesidade entre elas – e contribuem para o sucesso de procedimentos como o transplante de medula óssea

16/09/2019 12h14 Atualizado há 4 anos

16/09/2019

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein

Trilhões de micro-organismos residem no intestino. Cálculos recentes indicam que esse número pode ser de 10 tri e há quem afirme que chegue a 100 tri. Eles têm características específicas em cada ser humano, como se fosse uma identidade. Nos obesos, por exemplo, é de um jeito. Nos atletas, de outro bem diferente. Estes agentes formam a microbiota intestinal, material que ganha cada vez mais atenção da medicina por seu papel na prevenção e tratamento de doenças. Recentemente, novas pesquisas demonstraram, por exemplo, sua importância contra enfermidades como a obesidade, autismo e diarreias graves.

Nos Estados Unidos, médicos do Brigham and Women’s Hospital finalizaram o primeiro estudo randomizado envolvendo pacientes obesos metabolicamente saudáveis e concluíram que mudanças na microbiota desses indivíduos induzem a alterações que favorecem o emagrecimento. “Na prática clínica, vemos pacientes que não têm outros problemas de saúde, mas simplesmente não conseguem emagrecer”, afirmou Jessica Allegretti, coordenadora do trabalho. “É uma população de pacientes importante, a quem devemos dar atenção e tentar entender o que ocorre com eles.” A pesquisa teve 22 participantes. Durante três meses, metade ingeriu cápsulas contendo microbiota retirada de indivíduos magros e o restante, placebo. Os que foram tratados com as cápsulas apresentaram modificações que deixaram seus padrões metabólicos muito parecidos com as pessoas magras. “A informação levará à criação de terapias mais focadas contra a obesidade”, acredita a cientista Jessica.

Boas indicações vieram também de pesquisas conduzidas na Universidade do Arizona e que tiveram como alvo o tratamento do Transtorno do Espectro Autista, um dos distúrbios mais desafiadores para a medicina e tratado atualmente com um combo de terapias que inclui de remédios a fisioterapia e psicoterapia. Em um trabalho recém-publicado na revista Scientific Reports, os pesquisadores da instituição mostram que o transplante de microbiota (ou transplante fecal) reduziu a intensidade de sintomas como a dificuldade de expressão oral, de interação social e de comportamento. “Estamos observando uma forte conexão entre micróbios que vivem no intestino e as trocas de mensagens que ocorrem entre as células cerebrais”, explicou Rosa Krajmalnik-Brown, uma das líderes do trabalho. “Dois anos depois do tratamento, as crianças estão ainda melhor”, afirma.

No Brasil, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, um estudo vai avaliar o uso de probióticos, micróbios benéficos encontrados em certos tipos de iogurte e leites fermentados, em pacientes submetidos a transplante de medula óssea. “Eles receberão o probiótico antes de fazer a infusão da medula e sua microbiota será analisada”, explica a nutróloga Andrea Pereira, do hospital. Depois do transplante, a microbiota será reavaliada.

Em oncologia, esse tipo de estudo é recente. No caso específico do transplante de medula óssea, existe uma complicação denominada doença do enxerto contra o hospedeiro, quando as células da medula óssea ou células-tronco do doador atacam o receptor. “Ela às vezes causa diarreias importantes para os pacientes porque pode afetar o trato gastrointestinal”, descreve a especialista. O transplante de microbiota surge como opção contra este efeito. “No Einstein, dois pacientes já foram submetidos ao procedimento e o resultado foi muito bom”, diz Andrea.

“As fezes usadas no transplante fecal são tratadas”, diz a nutróloga Sandra Elisa Adami Batista Gonçalves, também do Einstein. Ou seja, são eliminados micróbios patogênicos, que podem ser prejudiciais para uma pessoa com a imunidade baixa, caso de quem tem câncer. Vale lembrar que a análise dos nossos dejetos revela o estado da microbiota do indivíduo.

Os hábitos, sobretudo os alimentares, determinam o perfil da microbiota de cada um. Em outras palavras, a de um obeso que consome muita gordura no dia a dia vai ser diferente de alguém que dá preferência a vegetais, que fornecem oligossacarídeos. O nome complicado se refere a fibras que servem de alimento para os micro-organismos do intestino. “Frutas, verduras, hortaliças, leguminosas e cereais integrais são as principais fontes de fibra”, diz Sandra. Uma alimentação pobre em vegetais desequilibra a microbiota, o que favorece a proliferação de bactérias maléficas. “Elas não necessariamente causarão doença, mas o indivíduo será colonizado”, explica a nutróloga. Essas bactérias induzem a inflamações no epitélio intestinal.

Além de privilegiar uma alimentação saudável, outra forma de enriquecer a microbiota intestinal é praticar exercícios físicos. Duas pesquisas feitas na Universidade de Illinois – uma em cobaias e outra em humanos – revelaram que os exercícios, sozinhos, provocam modificações benéficas, tornando as células do intestino mais saudáveis.

(Fonte: Agência Einstein)

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