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A síndrome inflamatória ligada à Covid-19 que afeta crianças

No início da pandemia, acreditava-se que elas, de certa forma, estariam poupadas dos efeitos deletérios da doença

08/06/2020 10h28 Atualizado há 3 anos

O nome é grande e complexo: Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica (PIMS, na sigla em inglês). Como a nomenclatura entrega, trata-se de uma reação inflamatória grave e sistêmica que acomete crianças e está associada ao novo coronavírus. Até agora, foram descritos cerca de 200 casos no mundo.

Os sintomas são semelhantes aos da doença de Kawasaki, condição que causa inflamação nos vasos e tem como sintomas febre alta e lesões na pele. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, os pequenos que apresentaram a PIMS testaram positivo para o Sars-Cov-2 por meio dos exames RT-PCR, que detecta a presença do vírus, ou sorológico, que mostra haver anticorpos contra o micro-organismo. “A positividade pelo PCR não foi obrigatória, mas observaram-se anticorpos para o vírus em grande parte dos casos”, explica o cardiologista pediátrico Gustavo Foronda, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.

Além de febre persistente, acima de 38° e por mais de três dias, as crianças manifestavam exantemas (erupções cutâneas) e inchaço nas mãos e nos pés, conjuntivite, dor abdominal, diarreia e vômito. Também foram constatadas em algumas ocorrências dilatação das artérias coronárias, que levam oxigênio e nutrientes para o miocárdio, o músculo do coração. “Isso também é verificado na doença de Kawasaki”, explica o cardiologista. Os casos mais graves podem evoluir com hipotensão (pressão muito baixa) e choque.

Diferentemente da doença Kawasaki, que atinge crianças abaixo dos 5 anos, a PIMS acomete preferencialmente a faixa etária acima de 10 anos. Ela também apresenta manifestações neurológicas, renais e no sangue. Marcadores que indicam inflamação se encontram elevados, como a proteína C-Reativa.

A mortalidade ficou em torno de 1% a 2%, mas ainda é cedo para ter uma taxa real. “O mais importante é os pediatras estarem atentos com crianças que aparecerem com esse quadro”, recomenda Gustavo Foronda. “Não parece ser uma infecção aguda pela Covid-19, mas uma resposta inflamatória tardia induzida pelo vírus.” Como há menor acometimento pulmonar, o tempo passado na UTI, intubado, é mais breve se comparado com o de um paciente adulto. “Isso depende do comprometimento cardíaco e de outros órgãos”, diz o cardiologista pediátrico.

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Por qual razão as crianças seriam afetadas em menor proporção pelo novo coronavírus?

Uma pesquisa publicada no periódico científico Journal of American Medical Association (JAMA) pode ter identificado um possível fator relacionado a menor taxas de infecção pelo SARS-Cov-2 nas crianças. De acordo com o editorial publicado na revista, o estudo avaliou a expressão gênica em amostras de epitélio nasal coletadas em outro trabalho envolvendo pacientes com asma de 2015 a 2018. O tecido que constitui a mucosa do nariz é um dos primeiros locais da infecção pelo novo coronavírus.

Os pesquisadores examinaram a expressão da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) na superfície celular. Uma proteína do vírus se liga à ECA2 e permite a entrada do micro-organismo nas células humanas. Entre 305 pacientes com idades de 4 a 60 anos, crianças e adolescentes (10 a 17 anos), jovens adultos (18 a 24 anos) e adultos (de 25 anos em diante) apresentaram expressão mais alta de ECA2 do que nos pequenos de 4 a 9 anos – e a expressão da ECA2 foi maior em cada faixa etária subsequente após o ajuste para gênero e asma.

Ainda segundo o editorial do JAMA, um novo estudo do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (NIH, em inglês) vai acompanhar 6 mil crianças para determinar os fatores de risco associados ao desenvolvimento da Covid-19.

(Fonte: Agência Einstein)

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